As bolsas em Portugal são baixas? como arranjar argumentos?

Discussão das prioridades para a melhoria das condições enquanto jovens investigadores e as estratégias a seguir para as atingir.
Regras do Fórum
"Prioridades e estratégias"; cujo objectivo é a discussão daquilo que os bolseiros consideram ser as prioridades para a melhoria das suas condições enquanto jovens investigadores e as estratégias a seguir para atingir os objectivos propostos.
Responder
Aragao
Sócios
Sócios
Mensagens: 1078
Registado: sábado abr 24, 2004 4:22 pm
University/ Institute: Diamond Light Source
Localização: Oxfordshire, United Kingdom
Contacto:

As bolsas em Portugal são baixas? como arranjar argumentos?

Mensagem por Aragao »

As bolsas de doutoramento em Portugal são baixas?
Como arranjar argumentos e dados sem fazer apenas a afirmação que são altas ou são baixas?


Em mensagem aqui: http://forum.bolseiros.org/viewtopic.php?p=2139#2139
Paulo J. N. Silva Escreveu:
Aragao Escreveu:
[snip]
Entendo a falta de dinheiro mas tirando o regime de seguranca social que comeca a ser uma realidade na maioria dos paises o valor da bolsa de doutoramento em Portugal é razoavelmente elevado como se pode ver nos seguintes dados de 2003 os poucos que recebem mais do que nos pagam impostos e seguranca social e portanto em valor real recebem menos.

http://www.bolseiros.org/pdfs/situation_ESR.pdf (dados de 2003)
[snip]

Olá

Parece-me que o estudo mostra exactamente o contrário. Quase em todos os países da União Europeia, os estudantes de doutoramento, recebem mais que os portugueses em termos líquidos. Além disso fazem os descontos não de acordo com o SSV (ordenado mínimo, como em Portugal) mas de acordo com o que recebem. Os únicos países a nível da União Europeia que recebem menos que nós são Espanha, Itália, Irlanda e Grécia. Salvoerro, em 12 paíse da UE em 2003, 2/3 tinham melhor situac,ão que a nossa. Agora o que é interessante é perceber se os países mais desenvolvidos a nível científico, são aqueles onde se recebe menos? A resposta é óbvia e é não.

O que eu vejo no estudo é os valores médios das bolsas (ha uns valores superiores e inferiores em alguns paises que nao entendo):


Hungria - 315 (sem impostos)
Irlanda - 700 (sem impostos)
Eslovenia - 800 (depois de pagar impostos)
Espanha - 850 (depois de pagar impostos)
Italia - 840 (sem impostos)
Portugal - 980 (sem impostos)
UK - 1000 (sem impostos)
Alemanha - 1000 (depois de pagar impostos)
França - 1250 (depois de pagar impostos)
Holanda - 1300 (depois de pagar impostos)
Belgica - 1500 (depois de impostos)
Dinamarca - 1650 (depois de impostos)
Suécia - 1800 (depois de impostos)
A Inglaterra (UK) deve ser dos paises onde a racio cientista/publicação anual é o mais elevado. Nao vou falar da enormidade da Irlanda (que nao entendo) mas por exemplo a Alemanha tem pelo menos a fama de ser exigente e ter uma forte àrea cientifica (pelo menos na Física e na Química que conheço).
O que vejo do estudo não é o contrário como tu dizes. O que vejo é que há uma tendência para se pagar impostos (que é vantajoso no meu ponto de vista mas deve ser encarado com algum cuidado para dizer que quem recebe o mesmo mas paga impostos ganha mais. De facto ganha mais.. mas não tem mais dinheiro nem muitas vezes mais condicoes para no seu dia a dia. Tirando claro as declarações de IRS que permitem emprestimos bancarios sem fiadores).
Acho que se queremos manter investigação em Portugal e atrair investigadores do estrangeiro com qualidade para virem cá fazer o doutoramento temos de pensar nesta questão.
Agora fazer a afirmação simples que ganhamos muito pouco comparado com os outros sem qualquer argumento acho falso !
(e já não estou a falar de nível de vida).


Comentários e argumentos ?
David

P.S: isto com base neste estudo de 2003. Seria interessante saber quando mudaram as coisas....
Wolf Credo: "Respect the elders, Teach the young, Cooperate with the pack, Play when you can, Hunt when you must, Rest in between, Share your affections, Voice your feelings, Leave your mark."
---
Visita o Guia do Bolseiro

Alfredo Baptista
cientista regular
cientista regular
Mensagens: 149
Registado: sábado nov 27, 2004 10:31 am
Localização: Universidade do Porto

Duas questões

Mensagem por Alfredo Baptista »

Só tenho duas questões:

- este estudo a que se referem estará actualizado? Vi que é de 2003, e pode não estar actualizado. Nem todos os países têm uma FCT, que não aumenta os seus bolseiros por mais de 3 anos...
- os regulamentos dos outros países exigem exclusividade tal como a português? É que caso não exijam, os bolseiros podem complementar os seus vencimentos com outro tipo de actividades, o que distorce a realidade dos vencimentos.

Paulo J. N. Silva
Sócios
Sócios
Mensagens: 362
Registado: segunda mai 17, 2004 11:57 am
University/ Institute: Ansiao
Localização: Ansiao

Re: As bolsas em Portugal são baixas? como arranjar argument

Mensagem por Paulo J. N. Silva »

Aragao Escreveu:As bolsas de doutoramento em Portugal são baixas?
Como arranjar argumentos e dados sem fazer apenas a afirmação que são altas ou são baixas?


Em mensagem aqui: http://forum.bolseiros.org/viewtopic.php?p=2139#2139
Paulo J. N. Silva Escreveu:
Aragao Escreveu:
[snip]
Entendo a falta de dinheiro mas tirando o regime de seguranca social que comeca a ser uma realidade na maioria dos paises o valor da bolsa de doutoramento em Portugal é razoavelmente elevado como se pode ver nos seguintes dados de 2003 os poucos que recebem mais do que nos pagam impostos e seguranca social e portanto em valor real recebem menos.

http://www.bolseiros.org/pdfs/situation_ESR.pdf (dados de 2003)
[snip]

Olá

Parece-me que o estudo mostra exactamente o contrário. Quase em todos os países da União Europeia, os estudantes de doutoramento, recebem mais que os portugueses em termos líquidos. Além disso fazem os descontos não de acordo com o SSV (ordenado mínimo, como em Portugal) mas de acordo com o que recebem. Os únicos países a nível da União Europeia que recebem menos que nós são Espanha, Itália, Irlanda e Grécia. Salvoerro, em 12 paíse da UE em 2003, 2/3 tinham melhor situac,ão que a nossa. Agora o que é interessante é perceber se os países mais desenvolvidos a nível científico, são aqueles onde se recebe menos? A resposta é óbvia e é não.



Aragao Escreveu:O que eu vejo no estudo é os valores médios das bolsas (ha uns valores superiores e inferiores em alguns paises que nao entendo):
O estudo foi feito publicado em 2003, pelo que os novos membros da UE ainda cá não estavam, daí eu os ter retirado. Dos outros membros do estudo, eu só falei dos países da União Europeia, também não considerei a Noruega.

Se vamos falar no custo de vida, então estamos bem abaixo dos paises dos 2/3 dos paises da UE que têm bolsas mais elevadas do que as nossas. Pois o nosso ppp ver definic,ão aqui http://en.wikipedia.org/wiki/Purchasing_power_parity
ver ppp oecd 1999-2002 aqui http://www.oecd.org/dataoecd/32/34/2078177.pdf

O que isto mostra é que todos os paises que eu referenciei como sendo da UE, ganhando uma bolsa superior à portuguesa, têm um poder de compra melhor que o nosso. Por isso as nossas bolsas são baixas. Se abrires o universo aos novos países da UE, não somos nós que temos de ganhar menos, eles (alguns países que ganham ainda menos que nós) é que têm de oferecer melhores condic,ões aos seus investigadores.

joaopalma
recém-chegado
recém-chegado
Mensagens: 9
Registado: sexta mar 10, 2006 5:02 pm
Localização: AGROSCOPE Reckenholz-Taenikon Research Station ART, Zurich

Mensagem por joaopalma »

Caros futuros colegas da ABIC,

Eu não sou vosso sócio, mas em breve serei. Gosto das acções que promovem e da informação que têm o vosso site.

Alem de enviar esta mensagem por email à abic@bolseiros.org colocarei esta mensagem no fórum "Prioridades e Estratégias -> As bolsas em Portugalsão baixas? como arranjar agumentos?"

Em visita ao vosso site tomei conhecimento da vossas acções que desde já vos dou os parabéns pela integridade demonstrada nas vossas resumidas "7 acções".

Provavelmente estarão em negociações para o próximo Orçamento de Estado com o MCTES/SE/ministro sobre algumas delas.

Em particular, gostaria de partilhar convosco o meu raciocínio relativamente à "Actualização dos montantes das Bolsas" para que tenham(os) uma mais valia sobre valores de bolsas a apresentar.

Neste momento encontro-me a finalizar a tese de doutoramento em Zurique. Apesar de o meu local de trabalho ser aqui em Zurique, a minha inscrição oficial é na Universidade de Wageningen, na Holanda.

A minha bolsa é paga pelo estado suiço mas como já vi algures no vosso forum relativamente a alguns colegas, a minha também tem um formato de "contrato de trabalho"

-----------------------------------------------------------------------------

Valores de Bolsas Suiças de doutoramento disponíveis em: http://www.snf.ch/downloads/allg_doktorierende_f.pdf

resumindo para euros:

1° ano: 21443€ (1787 €/mês)
2° ano: 23353€ (1946€/mês)
3° ano: 25274€ (2106€/mês)

Bom, isto para vos dar uma ideia dos valores de bolsas de doutoramento na suiça e o seu "formato" em "contrato de trabalho". Ou seja estão sujeitas a impostos. Mas com uma particularidade. Por ser estudante de doutoramento, é sujeito a uma taxa especial de 2.5%

-----------------------------------------------------------------------------
Passando para as bolsas de Pós doutoramento,

Não consigo encontrar um documento oficial na SNF acerca de bolsas de de post-doc (se precisarem muito digam que esforço-me mais um pouco para achar) mas andam à volta do dobro das de doutoramento:

ou seja,

cerca de 50000€ /ano

encontrei um documento de 2002 da EMBO que tem um título interessante "How much is a scientist worth?" que vos(nos) pode ser útil ( http://www.its.caltech.edu/~cpa/dyna.pdf ) que tem na tabela 3 uma comparação de algumas bolsas europeias e dos US.

---------------------------------------------------------------------------------

Quanto a bolsas europeias, já ando a checa-las há algum tempo mas apenas tenho valores para Post-Doc que são as que me interessam e que vos forneço alguns valores e dicas.

As bolsas Marie Curie pressupõem uma mobilidade transnacional. Se eu quisesse ir para portugal com esta bolsa não podia ( a não ser que tivesse dupla nacionalidade ou estivesse noutro país fora da UE e países associadaos há mais de 4 anos)

Mas dá para perceber o valor que se dá aos investigadores Europeus (nós):

Se uma bolsa for do tipo "contrato de trabalho"

investigadores com 4-10 anos experiencia: 3474€/mês
investigadores com > 10 anos experiencia: 5211€/mês


Se uma bolsa for do tipo "bolsa"

investigadores com 4-10 anos experiencia: 1737€/mês
investigadores com > 10 anos experiencia: 2606€/mês

aos quais se adicionam "allowances". Todos estes valores estão acessíveis em ftp://ftp.cordis.lu/pub/fp6/docs/calls/ ... en_pdf.zip mais precisamente no anexo I (pág 38 )

outra tabela interessante deste documento é o anexo II "Correction Coefficients"

Estes valores são os básicos a que poderiam corresponder um standard elegível para negociação, pois não têm as "allowances" dadas aos investigadores que se "mobilizam" (ver detalhes destas "allowances" no capítulo 6.3.1, página 21)

Ou seja esta poderia ser a base de uma bolsa em Portugal para um investigador Português (repito que já foi corrigida por um factor de correcção para Portugal - anexo II)

--------------------------------------------------------------------------------
O que tem um investigador estrangeiro a mais que um Português?

Suponhamos que um projecto Nacional de investigação necessita de 2 post-docs e lança um concurso...

Um investigador portugues de Post-Doc, ao candidatar-se a uma bolsa da FCT tem direito a 1495€ /mês (porque não pode candidatar-se à Marie Curie)

Um estrangeiro que se candidata a uma bolsa Marie Curie tem direito a:

suponhamos uma situação do exemplo do documento que refiro (pág 23) mas ao contrário... um Investigador Francês com família que venha para Portugal:

Living allowance: 47000
Mobility allowance:800x12 meses= 9600

correcção para Portugal: 88.7%

SubTotal: 50204

aos quais se adicionam

Carreer exploratory allowance: 2000
Travel Costs: 1000

Total: 53204€, que mensalmente corresponde a 4434€

mesmo que lhe retirem 26.5% de impostos (segundo a tablela de IRS disponível em ( http://www.dgci.min-financas.pt/dgciapp ... INENTE.xls )

ficaria com total de 3259€

ou seja, um portugues recebe, pelo mesmo trabalho, menos de metade do salário de um estrangeiro com as mesmas funções (neste caso receberia 45% daquilo que o Francês ganhava)

Da experiencia que tenho por esta europa, os investigadores portugueses não estão aquem de franceses ou quaisquer outros, muito antes pelo contrário...

deixo ao vosso critério a exploração deste assunto


--------------------------------------------------------------------------------
Estimular o regresso de investigadores nacionais radicados no estrangeiro

A minha opinião para eventualmente considerarem nas vossas negociações:

Confesso que comparando os "salários" por esta Europa fora, e olhando para as bolsas da FCT, o estímulo passará sempre pelo coração e não pelas contas a fazer ao fim do mês. Mesmo relativamente ao programa "Damião de Gois" que supostamente foi criado para estimular o regresso de cientistas nacionais. Quando telefonei para os responsáveis destas bolsas disseram-me que serão do mesmo valor que as "normais" da FCT. Pergunto eu, onde está o estímulo?


--------------------------------------------------------------------------------
A minha opinião

Como país da europa, temos o direito de colocar um standard europeu nos nossos desejos e não ficar com as migalhas próprias de discursos de "não haver dinheiro" que se resume a "não haver vontade política". Passo a explicar.

A classe científica é um motor de desenvolvimento e gerador de riqueza nacional. E é essa a demonstração e vontade política do momento.

Coloquemos o standard europeu em jogo às quais se pode ter valores referencia no site das bolsas Marie Curie:

Se uma bolsa for do tipo "contrato de trabalho"

investigadores com 4-10 anos experiencia: 3474€/mês
investigadores com > 10 anos experiencia: 5211€/mês

Se uma bolsa for do tipo "bolsa"

investigadores com 4-10 anos experiencia: 1737€/mês
investigadores com > 10 anos experiencia: 2606€/mês


Um doutorado que entre para os quadros da função pública tem um vencimento de 3327€/mês (tabela disponível em http://www.snesup.pt/), o que é mais ou menos correspondente ao valor de 3474€ se a bolsa estiver sobre o tipo "contrato de trabalho"

Como é sabido, condicionar os bolseiros a honorários iguais a investigadores do quadro não é novo. Até 1995 fazia-se isso (ver por exemplo artigo http://www.snesup.pt/movimentos/abic/co ... seiros.htm)

e li algures num documento oficial, penso que europeu, (que agora não sei onde está) que dizia qualquer coisa que "os investigadores bolseiros devem auferir pelo menos o salário de um investigador integrado no quadro com funções identicas"

É certo que estes aumentos, deveriam corresponder a uma alteração do "estatuto do bolseiro" que deixaria de ser uma "bolsa" e passaria a um normal contrato de trabalho com direito às regalias inerentes.

Se o Sr Ministro/SE não quiser considerar essa hipótese que penso que "apagava outras quantas alíneas de luta da ABIC", o mesmo documento serve para "reclamar" o direito a 1737€/mês e mais as regalias a que temos direito (seg social, seg saude, etc, etc)

O basear da bolsa nestes termos "europeus" tem a a vantagem de estar vinculada à actualização de criterios europeus que a FCT/MCTES teria de seguir se quiser abandonar a cauda da europa.


------------------------------------------------------------------------
Nunca é demais repetir frases do Orçamento de Estado 2006 ( http://www.portugal.gov.pt/NR/rdonlyres ... E_2006.pdf ):

Neste orçamento, em concordância com o programa de governo proposto e do objectivo da UE de 3% do PIB em investimento em investigação científica, o MCTES propõe algumas medidas específicas (ver página 208 do documento):

O OE de 2006 foi elaborado tendo em vista:

"Aumentar o nr de investigadores em Portugal"
"Aumentar o investimento de I&D tanto no sector público como no privado, estimulando o emprego científico em ambos os sectores e a sua crescente interacção"

Estando de acordo com o programa de governo:
"Fazer crescer em 50% os recursos humanos em I&D e a produção científica referenciada internacionalmente"
"Promover a criação e o preenchimento progressivo, de forma competitiva, de 1000 lugares adicionais para I&D no Estado, por contrapartida da extinção do número necessário de lugares menos qualificados noutros sectores da Administração"

e medidas concretas em:

"Reforço do apoio à criação de emprego qualificado em C&T no sector privado e no sector público"
"Lançamento de um Programa de Reforma dos Laboratórios do Estado, que contribua para a revisão das suas missões, modelos e estruturas, garanta a sua autonomia científica e o rejuvenescimento dos seus quadros e a sua relevância para a prossecução das políticas"


Penso que dei alguns argumentos em dizer que as bolsas em Portugal são baixas.
Talvez pequei por eventualmente ter dado mais valores de bolsas Post-Doc mas é esta a minha contribuição. É a info que tenho.

Os meus sinceros cumprimentos e boas negociações,

João Palma

alexandra rosa
cientista assíduo
cientista assíduo
Mensagens: 349
Registado: sábado abr 24, 2004 3:38 pm

Mensagem por alexandra rosa »

joaopalma Escreveu:Penso que dei alguns argumentos em dizer que as bolsas em Portugal são baixas.
Talvez pequei por eventualmente ter dado mais valores de bolsas Post-Doc mas é esta a minha contribuição. É a info que tenho.
João Palma
Olá João,

na minha opinião os problemas dos teus argumentos são:
- comparares valores de bolsas atribuidas pelo Governo português com valores de bolsas "especiais" - as Marie Curie - que são (d)as bolsas mais altas que existem na EU;
- comparares valores de bolsas para pessoas deslocadas (as Marie Curie) com bolsas nacionais. Quero dizer, terias de comparar uma bolsa Marie Curie com uma bolsa de pós-doc no estrangeiro;
- Não comparaste as bolsas nacionais com as bolsas nacionais do resto dos países da EU. E, fora os países do norte da Europa, os valores das bolsas (doutoramento) portuguesas são bastante "comparáveis";
- Os bolseiros que estão no estrangeiro em muitos casos ganham mais do que os locais (em alguns casos, como em Itália, chegam a ganhar praticamente o dobro dos italianos).

Alexandra
Alexandra Rosa
Ex-cientista

joaopalma
recém-chegado
recém-chegado
Mensagens: 9
Registado: sexta mar 10, 2006 5:02 pm
Localização: AGROSCOPE Reckenholz-Taenikon Research Station ART, Zurich

Mensagem por joaopalma »

Oi Alexandra,

Vamos lá então a ver se percebo os "problemas" que tu dizes dos meus argumentos.

1 - São argumentos. Que eu saiba são reais. Porque não compará-los?
1.1 - Não entendo porque dizes que são "especiais" e não entendo qual é o problema de serem das mais altas da europa. É proibido comparar? Porque é que havemos de comparar com bolsas menores? Só tentei arranjar argumentos para demonstrar que as bolsas em Portugal são baixas.

2 - Como deves ter lido nos PDFs, os cálculos que mostrei foram das bolsas "Marie-Curie" SEM CONTAR com os subsídios que contemplam os investigadores estarem "fora do país nativo". Ou seja é um valor "BASE" calculado para um "investigador europeu" esteja onde estiver e com um factor de correção ajustado já para Portugal.
Respondendo à tua afirmação dos valores serem para pessoas deslocadas, reafirmo que os valores que referi NÃO SÃO para pessoas deslocadas
2.1 - Se quiseres comparar as bolsas da FCT para o estrangeiro, tens de adicionar aos valores que mostrei em cerca de 1000 euros/mês (a mobility allowance).

3 - Não comparei porque não tenho esses dados. Apenas referi aquele estudo da revista EMBO de 2002 que encontrei. Comparei apenas com os valores que posso referir, os daqui da Suiça. Se servem ou não de comparação já não é comigo. De certeza que há um portugues (há sempre um portuga em todo o lado) em cada país da Europa a investigar. Se cada um enviasse esta informação teríamos uma ideia melhor do que comparar. Existe alguma tabela aqui na ABIC com os valores praticados em cada país? para verificar a tua frase: " são bastante comparáveis" ?

4 - Os bolseiros no estrangeiro devem ganhar mais que os locais. A razão disso é terem despesas acrescidas de viagem e compensações por estarem longe da familia. É compreensível. Essas contribuições adicionais são aqueles 1000 euros/mes que mencionei. MAS os valores que eu mostrei nos cálculos quando comparei um estrangeiro e um português, foram feitos com o VALOR BASE (sem os tais 1000 euros adicionais). Se comparares o valor base de um estrangeiro com o total de um português, o português recebe os tais 45%. Se adicionares os 1000 euros/mês ao investigador estrangeiro, o portuga receberá muito menos que 45%!!!

Eu só tentei demonstrar que os valores BASE da Marie-Curie podem ser considerados de senso comum dentro da Europa...
Tive o cuidado de retirar os valores "adicionais" próprios da mobilidade das bolsas, e fazer os cálculos com esses valores sem serem "especiais" (será por isso que lhes chamaste "especiais"?)

Eu penso que estes valores BASE poderiam ser comparáveis.
a justificação está em que os valores ficariam perto dos honorários de um investigador com as mesmas funções mas estando no quadro. (Aliás acrescento que um investigador sem estar vinculado no quadro deveria ganhar mais. É a lógica de qualquer mercado de trabalho por ser um contrato mais "instável", mas não vou entrar por aí - fica para outras "aventuras")

Outra razão seria a "importação" de cientistas nacionais radicados no estrangeiro. Haveria assim a possibilidade de comparar Portugal com outro país da Europa em termos de escolha de trabalho. Como é que um portugues que ganha cerca de 3000 euros/mês já com impostos e segurança social excluídos, pode querer voltar a Portugal com uma bolsa de 1500 a que ainda tem de descontar seg social e que tem de revalidar de 3 em 3 anos sujeito a alterações? Não se consegue por muitas voltas que dês ao custo de vida (que tem muita coisa que se lhe diga... não é nenhum bicho papão)...

Mas isso se calhar já puxar a "brasa à minha sardinha" e não quero ir por aí... mas gostava de ver bolsas mais atraentes para o pessoal voltar e trazer conhecimento de fora e aplicá-lo no nosso país que muito precisa

João

joaopalma
recém-chegado
recém-chegado
Mensagens: 9
Registado: sexta mar 10, 2006 5:02 pm
Localização: AGROSCOPE Reckenholz-Taenikon Research Station ART, Zurich

Mensagem por joaopalma »

Ainda em relação ao valores das bolsas de doutoramento referidas no documento http://www.bolseiros.org/pdfs/situation_ESR.pdf se fizermos uma médiazita simples tirando a Irlanda (que n percebo) e os novos países (porque temos de nos "calibrar" pela EU15, não sejamos ingénuos) temos que:

Belgica 1500
Dinamarca 1650
França 1250
Alemanha 1000
Italia 840
Holanda 1300
Espanha 850
Suecia 1800
UK 1000

Media= 1243

não será mais um argumento? (Acho que se houver vontade política, só não vê quem não quer...)

João

alexandra rosa
cientista assíduo
cientista assíduo
Mensagens: 349
Registado: sábado abr 24, 2004 3:38 pm

Mensagem por alexandra rosa »

joaopalma Escreveu:Media= 1243

não será mais um argumento? (Acho que se houver vontade política, só não vê quem não quer...)

João
Não, porque muitos destes países têm contratos de trabalho e não bolsas, portanto não poderias fazer a média desta forma. Além disso, se quiseres fazer a média com os países do sul, então as bolsas portuguesas são mais altas (as bolsas do Governo espanhol entretanto já aumentaram, mas representam uma pequena percentagem do total das bolsas em Espanha). Além disso, mesmo neste conjunto de países, se lá colocares o valor de uma bolsa de doutoramento (€980) vês que o valor não parece deslocado. Eu diria que o valor da bolsa da Suécia está muito mais deslocado do conjunto do que a bolsa portuguesa. Já agora, na Noruega o valor das bolsas no ano a que se refere este estudo era de €2000.

Acho que o argumento para a actualização das bolsas não deve ser o de que as bolsas portuguesas são baixas, não acho que sejam. Mas que não são actualizadas há vários anos.
Há ainda outro argumento que é o de cativar os melhores para a ciência. E por isso deveriam ser melhor pagos. Mas este é um problema não só nosso.
Alexandra Rosa
Ex-cientista

joaopalma
recém-chegado
recém-chegado
Mensagens: 9
Registado: sexta mar 10, 2006 5:02 pm
Localização: AGROSCOPE Reckenholz-Taenikon Research Station ART, Zurich

Mensagem por joaopalma »

Cara Alexandra,

Segundo o que percebi do significado do NMI = Net Monthly Income. Ou seja é o vencimento líquido. É um valor para comparar indiferentemente de ser do "tipo de contrato" ou "bolsa"

Ou seja, se vires os de "contrato de trabalho" são sujeitos a impostos enquanto as portuguesas não o são... vai dar ao mesmo. O NMI é o indice justamente para comparar as igualdades...

E continuo a não perceber a tua tendência para comparar com "os países do sul"... somos obrigados a comparar-nos pelos países do sul? a propósito de quê? Não percebo mesmo :( ... peço desculpa por alguma falta de percepção... mas porque razão comparas tu com as bolsas do "sul da europa"... somos alguns europeus de segunda para não nos calibrarmos pela média europeia?

Em relação à Noruega, não a pus na média porque está junto com a Russia e a Suiça... (não sei porquê) mas se quiseres por a noruega nas contas... maior ficaria a média...

Postas estas afirmações neste tópico não percebo a tua afirmação, alem de NÃO CONCORDAR, de que "as bolsas portuguesas NÃO são baixas"

Não sei se estás de acordo com o tipo de "contrato de trabalho". Mas para termos comparativos, como é que podes achar que as bolsas não são baixas quando uma pessoa com a mesmas funçoes que tu ganha bastante mais? por exemplo no caso de post-doc, na função publica começa a ganhar cerca de 2445 (3327-26.5% de impostos) e como bolseiro ganharia 1495...

Este raciocínio, em conformidade com o meu primeiro post neste forum, é explicativo de que se o valor BASE da Marie-Curie for considerado, os valores das bolsas conseguiriam equiparar-se às da função pública, como acontecia antes de 1995...

João

aragorn
Sócios
Sócios
Mensagens: 107
Registado: segunda abr 26, 2004 3:31 pm
Localização: ITQB - UNL

Mensagem por aragorn »

É incomparavelmente mais atractiva uma bolsa liquida de 1000 euros após impostos, implicando que estão feitos os descontos para a segurança social, que originam mecanismos de protecção como subsidio de desemprego, pensão de velhice, etc.

Comparar cruamente esses 1000 euros com os 980 da mesada da FCT, não me parece objectivo. Mesmo adicionando os 75 euros do degradante SSV. (O SSV para os bolseiros, está ao nível de dizer que os jovens investigadores devem remeter a sua solução de habitação para um bairro de realojamento social). Mesmo em Portugal, alguém que ganhe 980 euros liquidos após impostos com um contracto de traballho, está incomparavelmente melhor. Na sua relação com a banca, nos direitos sociais que estão subjacentes, no código laboral que regula a sua actividade.... não está socialmente ostracizado.

Exclusividade. Outro ponto. Esses 980 euros, pagando por eles o preço de não poder ganhar praticamente mais nada.... saem caros. Acho que essa exclusividade (ficar com a exclusividade, decalcada da incomparavelmente mais atractiva carreira da função pública, é ficar só com os caroços) devia ser melhor paga. Ou retirada, que é o que eu defendo neste caso. Por uma série de razões, desde ser um incentivo à economia paralela, ser castrante da iniciativa, dificutar a integração no tecido produtivo, etc.

Mesmo sem mexer no valor actual, um cenário que já seria bastante mais atractivo:

- 980 euros liquidos actualizados anualmente com a função publica
- integração no regime geral de segurança social
- fim do regime de exclusividade

Nestas negociações tb há que deixar claro que não estamos a pedir favor nenhum. Portugal se quer ter uma economia competitiva com base na inovação, tem que ser competitivo a atrair e fixar os recursos humanos adequados para isso (entre outras coisas). Sob pena de cada vez mais ficar só com os que não arranjam outra coisa, que certamente não serão o motor da competitividade com base na inovação.

aragorn
Sócios
Sócios
Mensagens: 107
Registado: segunda abr 26, 2004 3:31 pm
Localização: ITQB - UNL

Mensagem por aragorn »

Para efeitos comparativos dos valores das nossas bolsas de doutoramento com outros países da Europa, creio que é mais correcto usar o valor de 754€ como o valor da BD portuguesa. Que resulta da soma do valor so SSV ao valor da bolsa, subtraindo o valor da Seg. Social caso o bolseiro queira pagar o regime alargado equivalente a 2,5 o salário minimo nacional (valor real da bolsa).

Ou seja:

980€+73€-299=754€

coliv
recém-chegado
recém-chegado
Mensagens: 15
Registado: quarta jan 11, 2006 11:37 am
University/ Institute: Coimbra

Mensagem por coliv »

Subscrevo interamente esta última argumentação.

Elsa
recém-chegado
recém-chegado
Mensagens: 2
Registado: terça dez 04, 2007 11:36 pm

Mensagem por Elsa »

Já alguém tentou saber se as bolsas dos países citados também implicam a exclusividade do investigador? Tenho ideia que não. Noutros países o investigador pode continuar com o seu emprego (ou reduzir o horário) e a bolsa serve para - efectivamente - utilizar nas despesas de investigação.

Aragao
Sócios
Sócios
Mensagens: 1078
Registado: sábado abr 24, 2004 4:22 pm
University/ Institute: Diamond Light Source
Localização: Oxfordshire, United Kingdom
Contacto:

Mensagem por Aragao »

Elsa Escreveu:Já alguém tentou saber se as bolsas dos países citados também implicam a exclusividade do investigador? Tenho ideia que não. Noutros países o investigador pode continuar com o seu emprego (ou reduzir o horário) e a bolsa serve para - efectivamente - utilizar nas despesas de investigação.
http://forum.bolseiros.org/viewtopic.php?t=567

David
Wolf Credo: "Respect the elders, Teach the young, Cooperate with the pack, Play when you can, Hunt when you must, Rest in between, Share your affections, Voice your feelings, Leave your mark."
---
Visita o Guia do Bolseiro

joaorangel
recém-chegado
recém-chegado
Mensagens: 16
Registado: sexta abr 21, 2006 10:49 pm
Localização: Universidade de Edimburgo

Mensagem por joaorangel »

Caros bolseiros,

Não consigo entender onde é que a FCT foi encontrar o valor da bolsa para o Reino Unido. De acordo com o ESRC - Economic and Social Research Council - a FCT local na área das ciências socias, o valor da bolsa é o seguinte[1]:


Standard and Centres Linked Studentships
London - £14,600 (1542€/mês)
Elsewhere - £12,600 (1331€/mês)

Bolsas em parceria com outros research councils:
London - £16,600 (1753€/mês)
Elsewhere - £14,600 (1542€/mês)


A isto acresce-se:

Para alunos com deficiências £ 18000/ano
Comparticipação para fieldwork fora do Reino Unido variável entre 48 libras por semana a 216 libras por semana durante o período fora do pais .

A isto ainda se acresce comparticipações variáveis da própria universidade de do ESRC para deslocações dentro e fora do pais, pagamento de workshops e conferências, aprendizagem de línguas de trabalho.

Somando tudo não consigo perceber o valor que a a FCT apresenta. Mais detalhes em http://www.esrcsocietytoday.ac.uk/ESRCI ... -12067.pdf


Que eu saiba não há qualquer contrato de exclusividade. Todos os meus colegas em Edimburgo dão aulas como parte da sua formação. Evidentemente que são pagos pelo trabalho e essa soma não é descontada da bolsa.

Panoramix
Sócios
Sócios
Mensagens: 7
Registado: domingo jul 30, 2006 11:15 pm
Localização: Instituto Superior Técnico

Mensagem por Panoramix »

Na minha opinião, existe ainda mais um ponto que talvez mereça a pena salientar: independentemente das bolsas serem altas ou baixas, o facto de não serem aumentadas há vários anos (não sei exactamente quantos, mas creio que já vai para mais de 5) é no mínimo absurdo. Seria impensável tal acontecer a qualquer trabalhador, numa empresa ou no estado.

Certamente que os gestores ou administradores da FCT não concordariam com o congelamento dos seus próprios salários durante vários anos, apenas porque estão a receber mais do que a média da UE, ou do que o país ou lado, ou qualquer que seja a métrica que estejam a usar.

Creio que a FCT está a proceder mal neste assunto e acho prejudicial para o país caso esta situação se arraste.
"Everything is simple, but not that simple." (A. Einstein)

joaorangel
recém-chegado
recém-chegado
Mensagens: 16
Registado: sexta abr 21, 2006 10:49 pm
Localização: Universidade de Edimburgo

Mensagem por joaorangel »

Ao contrário do Panoramix não julgo que o facto de não have aumento do valor da bolsa seja um argumento per si. Julgo ser melhor retórica demonstrar o custo de um doutoramento típico em Portugal. Quero com isto dizer que os bolseiros se devem juntar e elaborar um orçamento realístico onde sejam incluídas rubricas como alojamento, alimentação, livros. Enfim. toda uma miríade de gastos associados com um projecto de quatro anos. No final deste cálculo deve-se compara-lo com o valor da bolsa. O resultado será evidente: é praticamente impossível um bolseiro auto-sustentar-se em Lisboa com o valor da bolsa oferecida. Claro que depois deste passo se pode argumentar que o poder de compra do bolseiro têm vindo a diminuir durante os último X anos desde que não há aumento das bolsas.

Panoramix
Sócios
Sócios
Mensagens: 7
Registado: domingo jul 30, 2006 11:15 pm
Localização: Instituto Superior Técnico

Mensagem por Panoramix »

Caro joaorangel: se calhar não me expliquei devidamente. Eu considero os seus argumentos bastante mais relevantes do que o que eu apresentei.

Quis, no entanto, sugerir mais um. Na minha opinião, é válido porque qualquer trabalhador, quando começa por receber um determinado ordenado, não espera que ele se mantenha inalterado durante o resto da sua carreira, mas sim que este acompanhe a evolução da economia.

Claro que os pontos apresentados pelo colega deverão ser prioritários na argumentação à FCT.
"Everything is simple, but not that simple." (A. Einstein)

Responder