Guião de avaliação, avaliação propriamente dita e depois...

Coloca perguntas a qualquer dos bolseiros que por aqui passem.
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Irina
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Guião de avaliação, avaliação propriamente dita e depois...

Mensagem por Irina »

Caros colegas,

Desde 2006 quando me candidatei pela primeira vez às bolsas de doutoramento é que começei a perceber que algo não estava bem. Na altura, a minha média de licenciatura (18) tinha sido ignorada e tinha recebido 2,5 no mérito do candidato, o que fez com que ficasse no fim da lista. As minhas 20 publicações em conferências e revistas internacionais não tinham sido consideradas. Reclamei pelas vias habituais, de acordo com o regulamento, e nunca recebi qualquer explicação, como terá acontecido com aqueles de vocês que passaram pelo mesmo processo. Qual transparência, qual direito à compreender o que se passa...
No ano seguinte, com a mesma proposta e mais poucas publicações recebi mais um ponto na avaliação final. Fiquei nos pendentes e depois obtive a bolsa. Fiquei contudo convencida da aleatoriedade da avaliação que recebemos.
Depois fui acompanhar os colegas e amigos que se candidatavam, com problemas semelhantes...Uma das minhas colegas, licenciada pela Universidade de Aveiro, recebeu 2 no mérito do candidato com o comentário: licenciatura de origem dúbia (!!!! na Universidade de Aveiro). Seguiu os trâmites todos, nunca recebeu qq resposta.
Fui falando e descobrindo qual a estratégia aplicada nas avaliações. Quem tem valor na proposta e representa "um risco" para obter uma boa nota, é "morto" com uma avaliação deste tipo, vai para o fundo da lista e de lá nunca sai porque nem a avaliação prévia, nem o recurso, olham para quem não está perto da linha de corte.
A minha aluna de doutoramento candidatou-se este ano e fizeram-lhe o mesmo. Deram-lhe uma nota no mérito do candidato que não pode ser dada de acordo com o guião, mas que ela nunca conseguirá alterar, apesar de resultar de "erros administrativos".
No meu caso, bolsa de pós-doc, a questão ultrapassou os limites da decência. Nem leram a proposta, utilizaram o guião de avaliação incorrecto e disseram-me que havia continuidade no pós doc quando a única coisa em comum era a área de Economia e Gestão à qual me tinha candidatado. Disseram-me que não tinha acabado o doutoramento quando tinha anexado o comprovativo de entrega da tese e deram-me 2 no mérito do candidato quando tenho mais de 40 publicações na área em que me candidato. E publicações de peso. A instituição de acolhimento estava bem, mas deram-me 2,75. E depois a questão é que não vale a pena reclamar. Talvez valha a pena falar com os jornais, com a polícia para investigar suspeitas de corrupção ou com o governo...Só assim.
Desculpem o desabafo, mas o que me incomoda é a forma de lidar connosco como se fossemos lixo. Não os critérios, nem haver outras pessoas a obterem a bolsa (estão de parabéns por serem melhores! e desejo-lhes boa sorte). A questão é que num estado europeu desenvolvido isso não deveria acontecer. Devíam ter pelo menos o cuidado de fazerem comentários relativos, ex. sobre mérito científico, que não se podem atacar. Mas assim, é mesmo à descarada.
E depois todos os jovens que se candidatam às bolsas de doutoramento que acreditam no sistema ficam a pensar que são eles que não fizeram bem alguma coisa. Nalguns caso, até pode ser. Mas pelo que vejo, a questão não é esta.
Enfim, é o país em que vivemos...

seshat
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Re: Guião de avaliação, avaliação propriamente dita e depois...

Mensagem por seshat »

Olá!

Não podia estar mais de acordo contigo. As avaliações feitas pelos painéis são em muitos casos indecentes porque parecem completamente aleatórias. Não existem critérios concretos para dar x nota a um aluno e y a outro .. porque simplesmente os guiões não são seguidos ou porque o próprio guião dá espaço para qualquer coisa, como é o caso dos Post-docs. Quanto vale 1 publicação para o mérito do candidato? E 3 ? E 4 ? E o próprio percurso do candidato? Não vale nada? Somos avaliados literalmente pelo peso do papel, do número de páginas a que correspondem os nossos papers? E quando os candidatos não são os primeiros autores e simplesmente foram para um grupo onde muitos assinam os papers? Como funciona neste caso? Tem o mesmo peso de um primeiro autor?
Penso que já é tempo de haverem critérios concretos e muito objectivos de como lidar com todas as situações porque nós não somos lixos e merecemos respeito. E tenho muita pena de as pessoas ditas responsáveis neste pais não olharem para isso.
Outra situação caricata é também a forma como avaliam o mérito da instituição e do orientador. Mesmo com classificações científicas feitas pela FCT para cada instituição e para cada grupo, os avaliadores continuam a seguir outros guias que desconheço. No meu caso, a instituição deveria ter nota de 4.5, o orientador responsável teria de 4.5 a 5 e os co-orientadores foram classificados com 5 e a classificação final ficou em 4.4, abaixo da nota mais baixa possível. Não se compreende. Se querem alterar os guias e o nível da justiça e decência .. ao menos que nos dessem justificações para tal porque nos comentários só consta mesmo o que deveria estar reflectido na nota quantitativa.
Nem sei que palavras usar para descrever este processo. Transcende a minha capacidade criativa.

Cumprimentos,

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