Problema:
Recebo bolsa doutoral da FCT e já estou nos ultimos 10 meses de bolsa. Inscrevi me num curso 1+3 mestrado e doutoramento. O mestrado correu bem, contudo, levou me a uma reavaliacao de interesses que resultou numa mudanca significativa no projecto e novo orientador. O novo orientador é muito reputado, e quando aceitou orientar me fiquei satisfeito. Talvez por isso nao reconheci as suas falhas por algum tempo. Ao inicio suspeitei ligeiramente que ele estivesse a utilizar me para explorar um tema sobre o qual nada sabia. Mas ao inicio tinha anos pela frente e estava entusiasmado pelo meu projecto e contente em iniciar trabalhos embora practicamente sozinho. Os encontros com o orientador eram raros e muito pouco uteis. Entretanto, o pequenos problemas no meu projecto cresceram ao ponto de por em causa a sua viabilidade teorica. Tive que voltar ao primeiro 1/3 uma e outra vez a tentar focar melhor a tese, o que comecou a atrasar me em relacao ao planeado. Finalmente, no ultimo encontro meu orientador admitiu que "arrependeu-se de nao me ter conduzido a temas sobre os quais me pudesse ajudar mais."
Actualmente estou num impasse teorico e sinceramente, num grave estado de depressao.
Nao sei se serei capaz de terminar, e neste momento nao me importava nada desistir e mudar de carreira. Mas se tiver que devolver tres anos e tal de bolsa...
Existe alguma saída dessa situacao? Que nao implique litigios e disputas? E que nao implique devolucao da bolsa? E o que significam os 30 dias de antecedencia no regulamento, no ponto sobre a desistencia.
E ja agora, o que é que se passa no caso em que seja necessaria a devolucao? Obviamente nao tenho a quantia -- retiram da minha conta no banco e deixam na no negativo? E se fechar a conta antes?
Vou preso? E se estiver no extrangeiro?
Enfim, PhD blues...
Crise de final de doutoramento: que fazer?
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Tiago H. Silva
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Re: Crise de final de doutoramento: que fazer?
Calma: não vais preso nem te vão tirar o dinheiro da conta porque não deste autorização para tal.
Não vou dizer que a tua situação específica é comum, mas uma crise em geral no "final" do doutoramento é normal...
Escrevi final entre aspas, porque supostamente, no doutoramento devia-se desenvolver um trabalho original, que estaria terminado quando a ideia estivesse suficientemente explorada e se tivesse capacidade para organizar trabalho científico novo de forma independente. Assim, não haveria um prazo definido para a duração do doutoramento. No entanto, com a atribuição de bolsas por período definido (tinha de ser, para evitar perpetuações) e mais recentemente com a definição de prazos mais ou menos rígidos pelas universidaes para a conclusão do doutoramento, isso já não é assim. Trabalha-se num projecto original durante os 4 anos e no final escreve-se uma tese que faça o resumo do que se fez. Claro que a ideia é que a tese conte uma história consistente, independente, e que mostre a maturidade científica do candidato.
Com este discurso todo quero dizer que o facto de não estares satisfeito com o trabalho nem com a orientação não significa que não te possas doutorar. Isso é uma coisa que tens de discutir com o teu orientador. Não me parece que seja um caso de incumprimento teu, logo não te iriam pedir o dinheiro de volta. Também não acredito que o teu orientador queira reconhecer oficialmente, perante a FCT, que não orientou bem, pois isso tem consequências para ele. Assim, falando, podeis chegar a uma solução, que pode muito bem passar pelo trabalho que tens feito e por algo mais que ainda venhas a fazer no tempo restante (é difícil ser mais concreto sem conhecer o trabalho e provavelmente sem ser da tua área em particular).
O ponto importante é que nesta altura não deves desistir. Estes obstáculos devem ser encarados não como dificuldades, mas como oportunidades para mostrar o nosso valor.
Boa sorte.
Tiago
Não vou dizer que a tua situação específica é comum, mas uma crise em geral no "final" do doutoramento é normal...
Escrevi final entre aspas, porque supostamente, no doutoramento devia-se desenvolver um trabalho original, que estaria terminado quando a ideia estivesse suficientemente explorada e se tivesse capacidade para organizar trabalho científico novo de forma independente. Assim, não haveria um prazo definido para a duração do doutoramento. No entanto, com a atribuição de bolsas por período definido (tinha de ser, para evitar perpetuações) e mais recentemente com a definição de prazos mais ou menos rígidos pelas universidaes para a conclusão do doutoramento, isso já não é assim. Trabalha-se num projecto original durante os 4 anos e no final escreve-se uma tese que faça o resumo do que se fez. Claro que a ideia é que a tese conte uma história consistente, independente, e que mostre a maturidade científica do candidato.
Com este discurso todo quero dizer que o facto de não estares satisfeito com o trabalho nem com a orientação não significa que não te possas doutorar. Isso é uma coisa que tens de discutir com o teu orientador. Não me parece que seja um caso de incumprimento teu, logo não te iriam pedir o dinheiro de volta. Também não acredito que o teu orientador queira reconhecer oficialmente, perante a FCT, que não orientou bem, pois isso tem consequências para ele. Assim, falando, podeis chegar a uma solução, que pode muito bem passar pelo trabalho que tens feito e por algo mais que ainda venhas a fazer no tempo restante (é difícil ser mais concreto sem conhecer o trabalho e provavelmente sem ser da tua área em particular).
O ponto importante é que nesta altura não deves desistir. Estes obstáculos devem ser encarados não como dificuldades, mas como oportunidades para mostrar o nosso valor.
Boa sorte.
Tiago
Re: Crise de final de doutoramento: que fazer?
Do estatuto do bolseiro: http://alfa.fct.mctes.pt/apoios/bolsas/estatutobolseiro
Artigo 18º
Sanções
2. No caso de incumprimento reiterado e grave por parte do bolseiro, a entidade financiadora tem direito a exigir a restituição das importâncias atribuídas.
3. Não se considera incumprimento a desistência, por parte do bolseiro, desde que notificada à entidade acolhedora e ou financiadora até 30 dias antes da pretendida cessação.
Portanto não terás de devolver nada, não houve incumprimento da tua parte, e muito menos "reiterado e grave". Simplesmente se quiseres desistir da bolsa fazes um comunicado à FCT e trabalhas, em teoria, mais um mês, na prática se não trabalhares mais certamente ninguém vai atrás de ti.
Agora, sinceramente, creio que na fase em que estás, quase no fim, se ainda não começaste a escrever, estará para breve, e mesmo que hoje te pareça que não vale a pena continuar, nunca se sabe as voltas que o mundo dá, e assim como assim também não tens nenhuma alternativa concreta, não vais deixar o PhD para uma oportunidade de emprego fantástica que te surgiu nem nada do género (pelo menos não parece pelo que dizes).
Acredita que conheço bem outra história como a tua - trabalho aparentemente fantástico, orientador aparentemente excelente mas que na prática não orientou nada. Talvez tivesse valido a pena desistir no 1º ou 2º ano, mas não no último (nesse tempo eram 4 anos). Bem ou mal, com ou sem vontade de o usar, sempre é mais um trunfo nos dias de hoje - e infelizmente este mundo é cruel, trunfos não são demais. Essa pessoa continua a fazer um balanço negativo do doutoramento mas não se arrepende de o ter terminado.
Artigo 18º
Sanções
2. No caso de incumprimento reiterado e grave por parte do bolseiro, a entidade financiadora tem direito a exigir a restituição das importâncias atribuídas.
3. Não se considera incumprimento a desistência, por parte do bolseiro, desde que notificada à entidade acolhedora e ou financiadora até 30 dias antes da pretendida cessação.
Portanto não terás de devolver nada, não houve incumprimento da tua parte, e muito menos "reiterado e grave". Simplesmente se quiseres desistir da bolsa fazes um comunicado à FCT e trabalhas, em teoria, mais um mês, na prática se não trabalhares mais certamente ninguém vai atrás de ti.
Agora, sinceramente, creio que na fase em que estás, quase no fim, se ainda não começaste a escrever, estará para breve, e mesmo que hoje te pareça que não vale a pena continuar, nunca se sabe as voltas que o mundo dá, e assim como assim também não tens nenhuma alternativa concreta, não vais deixar o PhD para uma oportunidade de emprego fantástica que te surgiu nem nada do género (pelo menos não parece pelo que dizes).
Acredita que conheço bem outra história como a tua - trabalho aparentemente fantástico, orientador aparentemente excelente mas que na prática não orientou nada. Talvez tivesse valido a pena desistir no 1º ou 2º ano, mas não no último (nesse tempo eram 4 anos). Bem ou mal, com ou sem vontade de o usar, sempre é mais um trunfo nos dias de hoje - e infelizmente este mundo é cruel, trunfos não são demais. Essa pessoa continua a fazer um balanço negativo do doutoramento mas não se arrepende de o ter terminado.
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Microzienky
- investigador em formação
- Posts: 37
- Joined: Wed Nov 03, 2010 8:49 pm
- University/ Institute: lisbonne
Re: Crise de final de doutoramento: que fazer?
Concordo com o último post.
Na minha opinião, o PhD acaba por ser um marco académico e de currículo e uma marca de esforço e trabalho original inovador a valorizar no futuro mercado de trabalho. Um desafio grande que prova, para além do trabalho em si mesmo, todos os sacrifícios e a capacidade de entrega e esforço pessoal. Trabalhei na indústria e conheci uma pessoa que nunca chegou a terminar o doutoramento ficara-se pelo 3º ano (considerado um R2) e outro que tinha terminado (considerado R3). Ora, para além da diferença de salário entre eles (~1000€) não havia distinção pelas competências de um e outro, havia era até infelizmente um certo preconceito e apreensão quanto ao 1º nunca ter terminado o PhD, no entanto até entrara no trabalho actual com recomendações do seu ex-supervisor do PhD incompleto...).
Já investiste no teu doutoramento, já foi feito um investimento em ti, pensa que no cenário de uma desistência pode ser caso de "todos perdem". Força e boa sorte.
Abraço
Na minha opinião, o PhD acaba por ser um marco académico e de currículo e uma marca de esforço e trabalho original inovador a valorizar no futuro mercado de trabalho. Um desafio grande que prova, para além do trabalho em si mesmo, todos os sacrifícios e a capacidade de entrega e esforço pessoal. Trabalhei na indústria e conheci uma pessoa que nunca chegou a terminar o doutoramento ficara-se pelo 3º ano (considerado um R2) e outro que tinha terminado (considerado R3). Ora, para além da diferença de salário entre eles (~1000€) não havia distinção pelas competências de um e outro, havia era até infelizmente um certo preconceito e apreensão quanto ao 1º nunca ter terminado o PhD, no entanto até entrara no trabalho actual com recomendações do seu ex-supervisor do PhD incompleto...).
Já investiste no teu doutoramento, já foi feito um investimento em ti, pensa que no cenário de uma desistência pode ser caso de "todos perdem". Força e boa sorte.
Abraço