E depois do pós-doc ?

[Rotiv]

Muitos fazem um pós-doutoramento porque depois do doutoramento não têm emprego (investigação científica, dar aulas, etc.). E depois do pós-doutoramento o que vão fazer ? é altamente frustrante continuar a ter cada vez mais habilitações, e sempre no desemprego. Por outro lado, vivendo de bolsas, não se tem direito a médico, não se tem férias pagas, e não se tem reforma !!!

[Rotiv]

Faltou-me dizer que a bolsa também não permite subsídio em caso de perda da actividade (subsídio de desemprego), nem protecção de familiares.
É uma situação que desenrasca provisoriamente, mas em si mesma a bolsa não traz protecção para o futuro.

[spca]

Muitos fazem um pós-doutoramento porque depois do doutoramento não têm emprego (investigação científica, dar aulas, etc.). E depois do pós-doutoramento o que vão fazer ? é altamente frustrante continuar a ter cada vez mais habilitações, e sempre no desemprego. Por outro lado, vivendo de bolsas, não se tem direito a médico, não se tem férias pagas, e não se tem reforma !!!

Quanto à parte do médico, não sei o que exactamente quer dizer com isso, mas tem direito ao SNS como qualquer português.
Quanto à reforma, pode e deve fazer o Seguro Social Voluntário - fica pelo salário mínimo, mas é melhor que nada.
De resto, como você diz, "É uma situação que desenrasca provisoriamente". Como várias outras - por ex. trabalhando a recibos verdes também não tem segurança nenhuma (vamos ver como vai ser o suposto subs desemprego), pode ser despedido a qualquer momento e metade do seu salário vai embora em descontos. E também não tem nenhuma regalia.

[Rotiv]

O seguro social voluntário não chega para nada, é como se estivesse a ganhar o salário mínimo nacional, a reforma será de miséria.Mas tem-se direito a uma reforma depois de muitos anos de trabalho. Ora, o pós-doc é uma situação transitória, e o que eu queria perguntar é o que que se vai fazer depois do pós-doc. Fica-se no desemprego, e sem direito a qualquer subsídio. Uma situação frustrante, pior do que sucede com outros desempregados, devido ao facto de se ter tantas habilitações para nada !

[José M.]

<<Pois pá, isto é um país de analfabetos, pá! Dá-lhe no Travolta, dá-lhe no disco-sound, dá-lhe no pop-chula, pop-chula pop-chula, iehh iehh, J. Pimenta forever!

Quanto menos souberes a quantas andas melhor para ti, não te chega para o bife?
Antes no talho do que na farmácia; não te chega para a farmácia?
Antes na farmácia do que no tribunal; não te chega para o tribunal?
Antes a multa do que a morte; não te chega para o cangalheiro?
Antes para a cova do que para não sei quem que há-de vir, cabrões de vindouros, ah?

Sempre a merda do futuro, a merda do futuro, e eu ah? Que é que eu ando aqui a fazer? Digam lá, e eu? José Mário Branco, 37 anos, isto é que é uma porra, anda aqui um gajo cheio de boas intenções, a pregar aos peixinhos, a arriscar o pêlo, e depois? É só porrada e mal viver é? O menino é mal criado, o menino é 'pequeno burguês', o menino pertence a uma classe sem futuro histórico... Eu sou parvo ou quê? Quero ser feliz porra, quero ser feliz agora, que se foda o futuro, que se foda o progresso, mais vale só do que mal acompanhado, vá mandem-me lavar as mãos antes de ir para a mesa, filhos da puta de progressistas do caralho da revolução que vos foda a todos!>>

FMI - José Mário Branco

[Rotiv]

Não tenho nada a dizer à tua critica final à revolução e ao progresso (eu nem sequer falei nisso).
Quis apenas ser realista: doutoramentos e pós doutoramentos de uns anitos transitórios, com carácter social, que acabem por ser frustrantes pois não dão qualquer emprego no futuro. E a frustração é maior quando se tem mais habilitações. É lamentável, mas é verdade.

[José M.]

Os empregos têm de ser dados pela sociedade, não pelo estado. Mas o estado têm a obrigação de dar emprego com direitos aos postdocs. E não criar cidadões de primeira e de segunda, com o dinheiro dos nossos impostos.

[Rotiv]

Exactamente, deveriam dar direitos aos cidadãos que realizam um pós doc, mas não é isso o que acontece.

[José M.]

Não é o direito a um postdoc! Dando um postdoc, o direito a um emprego com direitos e não uma espécie de emprego de segunda!

[Rotiv]

Pois sim, mas não há empregos. De que é que vale tirar o pós-doc ?

[José M.]

Isso é uma pergunta que cabe a cada pessoa responder, quando decide o que fazer da sua vida.

[Rotiv]

A pessoa verdadeiramente não decide, é levada pelas contingências socio-económicas...

[José M.]

A pessoa verdadeiramente não decide, é levada pelas contingências socio-económicas...

Claro!

[nowikissyou]

Rotiv,

Desculpa lá, mas foste obrigado por alguém a tirar um post-doc? Ou mesmo um doutoramento, mestrado ou licenciatura? É que se foste, isso parece-me um caso de polícia!

É preciso não confundir o direito ao acesso à Educação com o direito (que não existe, felizmente!) a obter um grau.

Para obter um grau (qualquer que seja) é preciso esforço e dedicação, e cabe a todos os cidadãos planear o seu projeto de vida e decidir se vale ou a não a pena prosseguir com os estudos para além da escolaridade obrigatória.

Se achas que não vais ter nenhum nenhum benefício após o post-doc, parece-me óbvio que deves tentar arranjar um emprego desde já. No entanto, e a ver pela competição que existe para obter uma BPD, diria que existem muitas pessoas que discordam da tua opinião.

[Rotiv]

A COMPETIÇÃO QUE EXISTE PARA OBTER UM PÓS-DOC NÃO É POR CAUSA DE PERSPECTIVAS DE FUTURO, ANTES PELO CONTRÁRIO : É DEVIDO AO FACTO DE ELAS NÃO EXISTIREM !...

[Echuu]

Rotiv,

Desculpa lá, mas foste obrigado por alguém a tirar um post-doc? Ou mesmo um doutoramento, mestrado ou licenciatura? É que se foste, isso parece-me um caso de polícia!

É preciso não confundir o direito ao acesso à Educação com o direito (que não existe, felizmente!) a obter um grau.

Para obter um grau (qualquer que seja) é preciso esforço e dedicação, e cabe a todos os cidadãos planear o seu projeto de vida e decidir se vale ou a não a pena prosseguir com os estudos para além da escolaridade obrigatória.

Se achas que não vais ter nenhum nenhum benefício após o post-doc, parece-me óbvio que deves tentar arranjar um emprego desde já. No entanto, e a ver pela competição que existe para obter uma BPD, diria que existem muitas pessoas que discordam da tua opinião.

Desculpa lá, mas acho que tens o teu ponto de vista um pouco enviesado...
A competição por uma BPD significa que muita gente discorda do Rotiv? Pelo contrário... É exactamente por não haver outras opções que há tanta competição por BPD. Caso contrário, muitos não optariam por fazê-lo, ou pelo menos por fazê-lo com uma bolsa atribuída pelo concurso da FCT.

E o ser-se obrigado a tirar um grau é relativo. "Somos" (falo no geral) "obrigados" (uma questão de semântica) a tirar uma licenciatura pela sociedade, pelo país em que vivemos, que é um país de Doutores. 95% dos anúncios de emprego hoje em dia pedem licenciatura.
Quanto ao Doutoramento, é-se "obrigado" a tê-lo em determinadas áreas. Por exemplo, com um curso na área da Biologia Molecular, pouco ou nada se faz sem um Doutoramento (o que não invalida o facto de que pouco se faz com ele, mas isso fica para outras núpcias). Vamos lá ver as opções:
- mudar de rumo --> se calhar não é a primeira opção, já que a pessoa tirou a licenciatura ou o mestrado na área;
- viver anos com bolsas de 745 euros;
- ganhar 980 euros durante 4 anos numa bolsa de Doutoramento (4 anos, o expoente máximo da estabilidade financeira para um cientista!), e almejar vir a ganhar 1450 com uma BPD após isso.

Ou seja, se eu tirar uma Licenciatura e/ou um Mestrado para fazer ciência e quiser viver em casa dos meus pais o resto da minha vida, não tiro Doutoramento, não preciso do dinheiro extra. Se eu quiser fazer ciência e ter uma vida familiar - ups, são compatíveis?! muitos acham que não - sou obrigado a tirar Doutoramento, para poder vir a ter a esperança de ter uma bolsa mais elevada no futuro. Será que consigo viver numa casa, alugada ou comprada, com uma outra pessoa, ter pelo menos 1 filho, e não depender de subsídios para não roçar o limiar da pobreza, fazendo ciência sem Doutoramento? Nem com ele!

[Echuu]

Rotiv,
Se achas que não vais ter nenhum nenhum benefício após o post-doc, parece-me óbvio que deves tentar arranjar um emprego desde já.

Esta é a parte mais engraçada daquilo que dizes.
Experimenta isso, após 2 graus e 6 anos de Ciência, e depois diz-me como te saíste. Em Portugal, entenda-se.

[Catarina Barreira]

Companheiros de sonhos

Não vale a pena exaltarem os ânimos, pois é óbvio que estamos todos do mesmo lado da margem.
Sabem porque fazemos isto? Penamos queixas de míseras bolsas? Acima de tudo porque gostamos do que fazemos, porque gostamos de investigar e, já agora, "a César o que é de César", porque somos bons nisto. É o que sabemos fazer de melhor.

Não é a situação ideal? Claro que não. Ando nestas andanças de bolsas há mais de meia década, sei que sou bolseira de PDoc desde a 2º semana de Janeiro, como todos vocês, mas ainda não vi um cêntimo na minha conta... E investigar a pedir dinheiro aos pais é muito mais que lixado, é humilhante... e ter quase 40 anos e ser quase tudo precário na nossa vida. Mas... Não trocaria esta vida por mais nada, porque faço o que amo.

Alternativas?? Bem, tenho 4 horas de aulas num Inst. Politécnico, não me paga nem a prestação da casa e nada de mais estável à vista. E agora? Todos optámos pelo mesmo: concorrer a uma bolsa e esperar que um dia alguma universidade/instituto ou afins nos integre no sistema...
Até lá, fazemos o que gostamos, apesar da precaridade.

[Echuu]

Sinceramente, eu faço o que faço porque ainda não arranjei alternativa. Só, e apenas. O gostar há muito que se foi. É tudo uma questão de prioridades.

[Rotiv]

Muita gente acaba por gostar, porque não tem outra alternativa. Mesmo que se goste de estar na investigação, certamente também se gostaria de uma situação mais estável. e promissora. Ora, o que fazer depois do pós-doc ? Pode-se continuar na investigação, se se gosta realmente, mas para isso não é preciso a FCT.