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As 7 medidas da ABIC - Uma desilusão

Enviado: domingo out 29, 2006 4:44 pm
por maraujo
Confesso que me desiludem as 7 medidas da ABIC. Não tanto pelo que dizem mas pelo que não dizem.

É óbvio que todos queremos mais postos de trabalho para a ciência (medida 1). Que preferimos contratos de trabalho a bolsas (medida 2). Que precisamos de uma segurança social mais efectiva (medida 3). Que gostaríamos de ver as bolsas actualizadas regularmente (medida 4). Que gostaríamos de ter algum mecanismo de controlo sobre quem nos paga (medida 5). Que existe necessidade de adequar alguns aspectos do regulamento e contratos das bolsas (medida 6). E que um desses aspectos pode ser a alteração do regime de exclusividade associada às bolsas (medida 7).

As primeiras 4 medidas não se podem dissociar do ciclo económico do País: sem dinheiro não se vão criar mais postos de trabalho no sector do Estado, nem aumentar as regalias sociais dos bolseiros.

Portanto o que é importante, nesta fase, não é pedir o aumento do número de postos de trabalho, ou das regalias sociais. O que é importante é exigir transparência no recrutamento dos trabalhadores científicos no sector do Estado.

No sector do trabalho científico do Estado temos duas realidades. Os que estão dentro do sistema, i.e., que entraram pela via das universidades ou laboratórios do Estado. E os que estão fora, i.e., os bolseiros da FCT. Os primeiros têm garantido o acesso aos mecanismos de progressão de carreira de acordo com critérios estipulados por Lei. Os segundos estão fora de qualquer carreira.

Esta é que é a questão essencial. As universidade e Laboratórios do Estado estão repletos de agentes e funcionários públicos na área do ensino superior e ciência que seriam incapazes de manter o seu trabalho se tivessem de competir num mercado de trabalho, aberto à competição. Se esse mercado existisse os melhores investigadores de entre os bolseiros teriam possibilidade de se integrar nas universidades e laboratórios do Estado.

De nada serve pedir mais postos de trabalho ao Estado sem que o Estado tenha primeiro resolvido estes problemas estruturais que contribuem para entupir o sistema. Não vale a pena fugir à realidade. O País é pequeno e produz pouco. A primeira solução para resolver o problema do emprego científico não é aumentar o sistema. É expurga-lo da sua ineficiência. Só depois se pode falar em aumentar gradualmente o sistema à medida em que se reforça a sua eficácia.

E isso não acontece, em parte, porque os sindicatos servem de força de bloqueio a tudo o que cheire a avaliação curricular com consequências, progressão na carreira sujeita a competição aberta, contratos termo certo, etc.

Infelizmente, as medidas propostas pela ABIC inserem-se na tradição sindical: pedir, pedir, pedir... em nome de interesses corporativos. Mas ao mesmo tempo recusar-se a ver o quadro completo. Neste caso, o quadro do trabalho científico do sector do Estado.

A justiça entre trabalhadores do sector científico do Estado não se fará distribuindo sopa para todos. A justiça far-se-á dando nozes a quem tem dentes.

Miguel B. Araújo

Enviado: segunda out 30, 2006 3:57 pm
por aragorn
No essêncial, concordo com esta tua análise, diagnóstico. Acho particularmente importante a questão da transparência nos concursos. E isso está tudo relacionado com outra coisa:

Responsabilização.

Enquanto os funcionários publicos na investigação não forem avaliados e não houver consequências para a falta de produtividade e qualidade, os líderes não se sentirão impelidos para procurar e escolher os melhores.

Agora, acho que nada disto invalida as reivindicações da abic. Muitas das coisas que fazem parte da tua analise (e que são, a meu ver, pretinentes) não sei se serão reivindicaveis para a abic. (como exigir o despedimento de funcionários públicos incompetentes e acomodados).

A avaliação séria das pessoas, grupos e intituições deverá fazer parte de uma reforma do sistema cientifico em Portugal. E, na minha opinião, a abic deverá reclamá-la sempre que der a sua contribuição para este assunto.

A questão da transparência dos concursos parece-me que poderia ser acrescentada como oitava medida, com todo o interesse. Claro que isso é um problema amplo, transversal a toda a administração publica em POrtugal e, em última análise, ao problema cultural da corrupção em Portugal.

Quanto à necessidade da criação de empregos, eu concordo com a abic. E, numa perspectiva de responsabilização e justiça, até me parece lógico que não sejam posições não permanentes. Posições a 3, 5, 10 anos, de modo a que pudesse haver uma verdadeira reavaliação com consequências no mercado aberto de trabalho e evitar os comodismos. E evitar separar os investigadores em castas, como actualimente. Mas estas posições, com dignidade e direitos. Contratos de trabalho e segurança social.

Enviado: terça out 31, 2006 4:05 pm
por Aragao
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Portanto o que é importante, nesta fase, não é pedir o aumento do número de postos de trabalho, ou das regalias sociais. O que é importante é exigir transparência no recrutamento dos trabalhadores científicos no sector do Estado.

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Olá Miguel,

Sem querer repetir o colega Aragorn queria dizer-te que concordo em grande parte como que escreves e até parcialmente em relação à ABIC. Digo parcialmente porque é injusto dizer que a ABIC não se preocupa com a transparências dos concursos... a questão está em fazer propostas reais e não dizermos apenas que não há transparência. E isso tem sido feito... bem sei que propostas fraquinhas como a que lancei pessoalmente aqui:

http://forum.bolseiros.org/viewtopic.php?t=1348
e que resultou na ABIC a adopta-la em parte:
http://forum.bolseiros.org/viewtopic.php?t=1506

A meu ver, infelizmente, a ABIC retirou os pontos que criavam mais transparência no processo. Pena que não tenham existido mais participações.

....mas mostra que há vontade. É preciso é mais brainstorming, mais discussão no interior dos jovens cientistas e propostas mais consistentes e de grande qualidade.

Quando ao "pedir mais regalias", não te esqueças que não são regalias extra e de luxo. Qualquer bolseiro nos dias de hoje (de BIC, Ph.D ou pós-doc) que fique doente e tenha de ficar umas semanas ou uns meses em casa, vidé partir uma perna, sabes o que lhe acontece?
Se e apenas no caso de ter seguro social voluntário (que nem sempre é uma realidade em bolseiros pagos por outras entidades que não a FCT) tem direito a uma percentagem do ordenado mínimo nacional. Resumo não podemos ficar doentes. A meu ver era preferivel atribuir menos bolsas e integrar os bolseiros no regime geral de segurança social ou mesmo pagar-lhes um seguro de saúde. Tudo seria melhor que a situação actual. A manter a situação teremos sempre uma ciência mais pobre porque muitos dos jovens com qualidade não vão procurar uma carreira na investigação ou vão faze-lo apenas em desespero de causa. A ciência não deveria ser para desesperos.


Finalmente subscrevo inteiramente os dois últimos paragrafos que escreveste e pessoalmente é uma preocupação minha em todas as contribuições que faço para a ABIC. Se "vês" o quadro completo :) convido-te, como sócio da ABIC, a participares sempre que puderes melhorando as propostas da ABIC e participando nas actividades que achares pertinentes. Quanto mais visões e mais pessoas de qualidade de maior qualidade será o trabalho da Associação, estou certo.

David

É tudo questão de prioridades

Enviado: terça out 31, 2006 5:43 pm
por maraujo
Eu entendo o que dizem, mas penso que falta reconhecer um facto: Não há necessariamente poucos postos de trabalho na área da ciência e docência em Portugal.

O que há é muitos postos mal ocupados e carreiras que não são acessíveis aos bolseiros. Como escrevi noutras ocasiões, os bolseiros têm poucas oportunidades de concorrer a postos de professor auxiliar porque as universidade são obrigadas a contratar os assistentes uma vez que estes acabam o doutoramento. E como há cada vez menos alunos isto quer dizer que sobram poucas ou nenhumas vagas por abrir de forma externa. Também não podem concorrer a professor associado porque é preciso 5 anos de experiência docente reconhecida o que, por definicão, raramente têm.

Ora resolver estes problemas da Lei é mais prioritário que pedir o aumento de postos de trabalho, pois num País com cada vez menos alunos e com um problema de financas públicas de dificil resolucão é pouco pragmático exigir um aumento significativo de funcionários publicos. E a Lei não avanca, desde os tempos de Guterres, pois vai chocar com os interesses da carreira docente que os sindicatos se apressam a defender com todas as armas que têm ao seu alcance.

Portanto é suicidio fazer depender o futuro dos bolseiros de uma medida irrealista, como seja a do aumento substancial de postos de trabalho. O governo só avancará com uma medida deste tipo - se tiver dois palmos de testa - na sequência de outras reformas mais profundas. Caso contrário arrisca-se a engordar o monstro sem qualquer retorno para o País.

Por isso que eu defendo que o mais importante é a clarificacão das regras do jogo. Isso passaria por:

1. Acabar com a contratacão de assistentes nas universidaes. Os bolseiros podem dar algumas destas aulas através de contratos a prazo como se faz em algumas universidades americanas e britânicas onde as assistentships ou fellowships docentes são um complemento aos bolseiros de investigacão e não uma entrada precoce na carreira.

2. Acabar com a nomeacão provisória de professores auxiliares e abrir TODOS os concursos de docencia à livre e justa concorrência.

Quando estas medidas estiverem implementadas poderemos então, com conhecimento de causa, alegar se existe ou não uma carência de postos de trabalho na ciência.

Miguel B. Araújo

E para quem se interessar por estes temas junto abaixo uma cópia de um artigo saido hoje no "El País"


Hoy por ti, mañana por mí

Endogamia es una palabra que no gusta en la Universidad, pero es la que se usa tradicionalmente para dar a entender que la selección de profesores para elevarlos a funcionarios de por vida no es lo transparente que debiera, sino que se utilizan subterfugios académicos que favorecen al candidato previamente elegido, que no siempre es el más valioso.

El diccionario de la Real Academia recoge en sus dos primeras acepciones los siguientes significados de endogamia: "Práctica de contraer matrimonio personas de ascendencia común o naturales de una pequeña localidad o comarca". "Actitud social de rechazo a la incorporación de miembros ajenos al propio grupo o institución". Las dos podrían valer para definir lo que ha venido ocurriendo durante años en la Universidad española, porque ya no es sólo que se prefiera al candidato de la casa sobre el que viene de fuera, sino que, a veces, se encuentra a más de un miembro de la misma familia en algunos departamentos académicos.

Desde 1983, dos leyes han regulado el acceso de profesores a la Universidad. Aquel año se aprobó la Ley de Reforma Universitaria, conocida por sus siglas, LRU. Establecía tribunales de cinco miembros en los que dos de ellos salían de la propia Universidad que convocaba la plaza. Los tres vocales restantes se elegían por sorteo entre los profesores o catedráticos de esa disciplina en toda España. El aspirante debía tener tres votos y ganaba su plaza. El sistema no dio los resultados previstos de transparencia, hasta el punto de que se acuñaron frases como "ligar el trío", es decir, conseguir un tercero entre los miembros elegidos por sorteo para que sumara su voto a los dos de la Universidad: de esa forma salía el candidato seleccionado previamente por la casa. ¿Cómo se ligaba el trío? Se acuñó otra frase para eso: "Hoy por ti, mañana por mí", es decir, tú votas a mi candidato, y cuando tú necesites mi voto, lo tendrás. La Universidad tenía así manos libres para colocar a los suyos e impedir el paso a los que no le gustaban.

"En 1992, un boletín informativo del Consejo de Universidades hablaba de un 100% de endogamia", recuerda el letrado y profesor de Derecho Financiero José Luis Martín Moreno. Ese dato lo tuvieron muy en cuenta los políticos, entonces gobernaba el PSOE, para tratar de reformar este sistema. "Cuando ocuparon la cartera de Educación Javier Solana y Alfredo Pérez Rubalcaba ya hubo intentos de limitar la capacidad decisoria de la Universidad convocante, así estaba escrito en sus proyectos, pero se cruzaron las elecciones y aquello no fraguó", explica Martín Moreno.

"Hace tan sólo cinco años, en septiembre de 2001, la enmienda de texto alternativo presentada por la hoy vicepresidenta del Gobierno, María Teresa Fernández de la Vega, contra el proyecto de la Ley Orgánica de

Universidades (LOU) del PP seguía apostando por reducir a uno el número de vocales que designa a dedo la Universidad convocante", asegura Martín Moreno.

Pero el proyecto del PP siguió adelante y estableció un examen nacional en el que un tribunal de siete miembros elegidos por sorteo debía habilitar a los profesores candidatos antes de concursar a las plazas que convocara la Universidad. Los rectores pidieron aquel año, antes de que entrara en vigor ese sistema, la convocatoria de unas 10.000 plazas, muchas más de las que solicitaban anualmente. El Gobierno del PP dijo que lo hacían para eludir el nuevo sistema, más complejo, antes de que se pusiera en marcha.

Desde las universidades contestaron que era la previsión lógica por los tres años que tardaría el nuevo sistema en ponerse en marcha y que las plazas ya estaban presupuestadas con antelación. Pero las cifras son tozudas. Entre 2002 y 2006, las universidades han solicitado 2.127 plazas, muy lejos de las 10.000 previstas para tres años. Para cubrirlas con cierto margen de maniobra se convocaron a su vez 3.923 plazas de habilitación para los profesores que quisieran después concursar. Cabe la posibilidad de dejar desierta alguna de estas plazas si el candidato habilitado no gusta al tribunal académico. Y también puede que la plaza la consiga, entre los habilitados y acreditados (según el puesto al que se accede), el que tenga menos títulos.

Son algunos de los fallos que detectan en la LOU del PP los universitarios, que no acaban de ver el sistema transparente. Por no hablar de lo costoso y lento que resulta organizar los tribunales de habilitación nacional, que además desplazan de sus puestos en las aulas a muchos profesores durante demasiado tiempo.

Cuando el PSOE ganó las elecciones, cumplió su promesa de reformar esa ley, que sacó a la calle en protesta a muchos rectores que vieron atacada su autonomía universitaria. Ese texto reformado se tramita ahora en el Parlamento. Se ha eliminado la polémica habilitación nacional, pero algunos universitarios, conscientes de los problemas que acarrea, temen también que se elimine con ella el filtro donde, al menos, se frena a los peores candidatos.

En el II Congreso de Corrupción Universitaria, que reunió en Madrid recientemente a un grupo de profesores afectados por la endogamia y el acoso, se manifestó el temor por que todo quede en manos, de nuevo, de la Universidad convocante.

El nuevo proyecto del PSOE mantiene las acreditaciones, es decir, los aspirantes tendrán que demostrar unos méritos ante un tribunal que aún no se sabe cómo ni quién lo formará. Y después concursarán en las universidades por una plaza. Estas últimas tendrán plena autonomía para disponer cómo se establecen esos concursos. Los miembros de uno y otro tribunal deberán hacer públicos sus currículos, algo que no ocurría antes. Pero los detalles tendrán que esperar a los futuros desarrollos de la ley una vez que ésta se apruebe.

Re: É tudo questão de prioridades

Enviado: terça out 31, 2006 6:01 pm
por Aragao
maraujo Escreveu:
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Portanto é suicidio fazer depender o futuro dos bolseiros de uma medida irrealista, como seja a do aumento substancial de postos de trabalho. O governo só avancará com uma medida deste tipo - se tiver dois palmos de testa - na sequência de outras reformas mais profundas. Caso contrário arrisca-se a engordar o monstro sem qualquer retorno para o País.
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:) O questão é que este governo, a meu ver bem, promove realmente mais jovens cientistas no sistema. O problema é que promove e coloca essa grande nova fatia de dinheiro em bolsas e mais bolsas. Eu pessoalmente defendo o mesmo que o Aragorn disse acima... não importa que sejam contratos de 2,3 ou 5 anos... o que importa é que sejam contratos de trabalho com um regime justo de segurança social e a normal protecção que a lei permite aos contratados. Sem isso prefiro emigrar ... e vou faze-lo dentro de pouco tempo.

Quando as questoes da endogamia e problemas nos concursos já por aqui passaram textos interessantes como o teu próprio texto :):
http://forum.bolseiros.org/viewtopic.php?t=1012

mas tambem, por exemplo este:
http://forum.bolseiros.org/viewtopic.php?t=680

E alguns outros que não encontrei numa pequena busca.

David
P.S: Faltaram sempre mais doutorados para :) pelo menos como diz o Prof. António Coutinho :) criar mais pressão no sistema para criar desemprego de alta qualificação e assim essas pessoas serem obrigadas a criar inovação hehe:
http://forum.bolseiros.org/viewtopic.php?t=1355

Re: As 7 medidas da ABIC - Uma desilusão

Enviado: quarta nov 01, 2006 8:00 pm
por Paulo J. N. Silva
maraujo Escreveu:Confesso que me desiludem as 7 medidas da ABIC. Não tanto pelo que dizem mas pelo que não dizem.

É óbvio que todos queremos mais postos de trabalho para a ciência (medida 1). Que preferimos contratos de trabalho a bolsas (medida 2). Que precisamos de uma segurança social mais efectiva (medida 3). Que gostaríamos de ver as bolsas actualizadas regularmente (medida 4). Que gostaríamos de ter algum mecanismo de controlo sobre quem nos paga (medida 5). Que existe necessidade de adequar alguns aspectos do regulamento e contratos das bolsas (medida 6). E que um desses aspectos pode ser a alteração do regime de exclusividade associada às bolsas (medida 7).

As primeiras 4 medidas não se podem dissociar do ciclo económico do País: sem dinheiro não se vão criar mais postos de trabalho no sector do Estado, nem aumentar as regalias sociais dos bolseiros.
Ola

Parece-me que continuamos a nao querer inverter o ciclo economico, ou seja se nao tivermos mao de obra qualificada, de certeza que nao vamos mudar o ciclo economico portugues baseado em mao de obra pouco qualificada e de baixos salarios. Nunca, desde que eu me lembre, tivemos politica para a ciencia e tecnologia com pes e cabeca.

maraujo Escreveu:Portanto o que é importante, nesta fase, não é pedir o aumento do número de postos de trabalho, ou das regalias sociais. O que é importante é exigir transparência no recrutamento dos trabalhadores científicos no sector do Estado.
Discordo, primeiro por termos um sector estado onde a qualificacao e baixa se compararmos com outros paises europeus, embora tenha vindo a melhorar ao longo do tempo. Por outro lado, e necessario que o bolseiro nao seja encarado como um estudante sem direitos sociais, ou seja os bolseiros em Portugal sao como o lumen do seculo XIX exagerando um pouco, mas e mao de obra qualificada sem ordenado condigno e regalias sociais.
Claro que devemos exigir transparencia no recrutamento, mas os partidos que tem estado no governo, ao contrario do que apregoam, da-lhes jeito como as coisas estao para por os seus boys and girls na funcao publica, e nisso temos de chamar as coisas pelos seus nomes.

maraujo Escreveu:No sector do trabalho científico do Estado temos duas realidades. Os que estão dentro do sistema, i.e., que entraram pela via das universidades ou laboratórios do Estado. E os que estão fora, i.e., os bolseiros da FCT. Os primeiros têm garantido o acesso aos mecanismos de progressão de carreira de acordo com critérios estipulados por Lei. Os segundos estão fora de qualquer carreira.
Agora, 2006, os primeiros nao podem progredir com o governo PS o que e um optimo estimulo...., os segundos continuam como sempre tiveram, quer com o PS do Guterres, quer com os governos do PSD-CDS-PP, quer agora com o PS novamente, ou seja nada mudou em 11 anos, e triste....

maraujo Escreveu:Esta é que é a questão essencial. As universidade e Laboratórios do Estado estão repletos de agentes e funcionários públicos na área do ensino superior e ciência que seriam incapazes de manter o seu trabalho se tivessem de competir num mercado de trabalho, aberto à competição. Se esse mercado existisse os melhores investigadores de entre os bolseiros teriam possibilidade de se integrar nas universidades e laboratórios do Estado.
E verdade para o sector estado como em qualquer outro sector da economia tem pessoas que nao sao competentes, a questao aqui e ter politicos verticais nos governos que nos tem desgovernado e por as leis a funcionar que nao tem acontecido, ou seja acabar com Fatimas Felgueiras, e outras flores do genero.
maraujo Escreveu:De nada serve pedir mais postos de trabalho ao Estado sem que o Estado tenha primeiro resolvido estes problemas estruturais que contribuem para entupir o sistema. Não vale a pena fugir à realidade. O País é pequeno e produz pouco. A primeira solução para resolver o problema do emprego científico não é aumentar o sistema. É expurga-lo da sua ineficiência. Só depois se pode falar em aumentar gradualmente o sistema à medida em que se reforça a sua eficácia.
Concordo se tivessemos a falar de maquinas, mas estamos a falar de pessoas, com familia, alegrias, tristezas, frustacoes, expectativas etecetera. E a unica maneira que vejo para expurgar o sector estado da ineficiencia, e se tivermos pessoas motivadas, com bons ordenados, boas regalias sociais, a competencia ser recompensada, etcetera. Infelizmente as tentativas de reestruturacao do sector estado tem passado SO pela diminuicao real dos salarios, quotas para a excelencia, como so 25% dos trabalhadores possam ser excelentes, e outras medidas avulsas, que em vez de melhorar o servico so tem como objectivo sacar aos trabalhadores. Basta ver como e que alguns directores ganham na DGCI, o boy posto pela Ferreira Leite ganha mais de 100 000 euros por ano, e que melhorias temos tipo nas cobrancas?

maraujo Escreveu:E isso não acontece, em parte, porque os sindicatos servem de força de bloqueio a tudo o que cheire a avaliação curricular com consequências, progressão na carreira sujeita a competição aberta, contratos termo certo, etc.

Isso nao e verdade, os sindicatos tem servido de travao ao neo-liberalismo serodio dos governos que procuram o melhor para quem tem muito e nao melhoram a vida do povo. Quer nos gostemos ou nao. Nao sao perfeitos, mas do mal o menos. Como sabemos nao sao os sindicatos que tem governado Portugal e dizem vamos gastar x milhoes na Expo 98, ou no Euro 2004, ou na Ota ou no TGV.
maraujo Escreveu:Infelizmente, as medidas propostas pela ABIC inserem-se na tradição sindical: pedir, pedir, pedir... em nome de interesses corporativos. Mas ao mesmo tempo recusar-se a ver o quadro completo. Neste caso, o quadro do trabalho científico do sector do Estado.
Parece-me que ao contrario daquilo que se possa pensar, nos pedimos nao o impossivel mas coisas concretas, como a integracao no regime geral da SS pelos bolseiros, que todos os bolseiros que nao facam investigacao para a obtencao de um grau, tenham contratos de trabalho e nao bolsas, que haja uma politica de ciencia e tecnologia que nao ha, que as bolsas sejam pagas a tempo e horas e mais coisitas como estas.
maraujo Escreveu:A justiça entre trabalhadores do sector científico do Estado não se fará distribuindo sopa para todos. A justiça far-se-á dando nozes a quem tem dentes.
A justica far-se-a, sendo justos nos criterios, a sopa da e sobra para todos.

Enviado: quarta nov 01, 2006 8:56 pm
por maraujo
Ao ler esta resposta do Paulo Silva (um representante da direcção da ABIC), uma resposta que não responde directamente às questões suscitadas mas que avança com um conjunto de opiniões ideológicas mais ou menos feitas e independentes da argumentação utilizada, não posso deixar de confirmar aquilo que já intuía:

Que os propósitos da ABIC, a verificar-se ser esta a sua posição oficial, se confundem com propósitos que vão muito além dos interesses dos bolseiros, ou da própria ciência.

Também concluo que não foi por acaso que as reivindicações foram as que foram e não foram as que não foram.

A ausência de reivindicações de fundo, reivindicações que conduzam a reformas estruturais nas universidades e nos Laboratórios do Estado, parecem dever-se a um facto simples:

Estas iriam colidir com os interesses de outros trabalhadores (afinal o que se quer sempre é distribuir a sopa para todos). Estamos, portanto, mais uma vez, no plano da discussão sindical e não no plano da discussão racional. A única que nos deveria interessar.

Fui bolseiro durante mais de 12 anos e claramente não me revejo neste tipo de argumentação.

Temo que se continuarmos por esta via não só não contribuiremos para o reforço da ciência em Portugal, como serviremos apenas os interesses de um qualquer partido da oposição que pouco preocupado está no desenvolvimento científico e tecnológico do País.

É uma pena que neste País sempre que há uma causa nobre. Sempre que há uma confluência de interesses num determinado grupo de pessoas, aconteça o mesmo. Uma força política, armada em representante das causas nobres, apodera-se de um movimento genuíno e informal com intuito de que este melhor servir os seus interesses. E a partir de aí tudo segue a mesma cantilena de sempre. Lamento mas talvez por ter alguns aninhos mais que alguns de vocês, isto cheira-me a "déjà vu".

Miguel B. Araújo

Acho injustas as acusacoes

Enviado: quinta nov 02, 2006 8:06 am
por Paulo J. N. Silva
maraujo Escreveu:Ao ler esta resposta do Paulo Silva (um representante da direcção da ABIC), uma resposta que não responde directamente às questões suscitadas mas que avança com um conjunto de opiniões ideológicas mais ou menos feitas e independentes da argumentação utilizada, não posso deixar de confirmar aquilo que já intuía:

Que os propósitos da ABIC, a verificar-se ser esta a sua posição oficial, se confundem com propósitos que vão muito além dos interesses dos bolseiros, ou da própria ciência.



Ola

A intuicao nao esta certa pois, no final da resposta anterior vai aquilo que a ABIC defende oficialmente, e isso esta claramente escrito, quando digo aquilo que a ABIC reivindica. Chamando-lhe coisitas.... O resto e a minha opiniao, pessoal. No entanto acho graca nos estarmos sempre a "criticar" e quando chega a hora das escolhas e de apontar onde ocorrem/ocorreram os erros, alguns de nos termos a ideia que foi o inexplicavel, as coisas aconteceram porque foi uma forca divina que fez que tal acontecesse, como nao existissem pessoas de carne e osso que levaram as coisas a estar como estao, muito interessante. Outra ilacao interessante e querer apolitizar a ciencia, como esta a cada momento nao corresponda a uma determinada necessidade do poder, seja ele qual for.

maraujo Escreveu:Também concluo que não foi por acaso que as reivindicações foram as que foram e não foram as que não foram.

Mais uma vez a intuicao esta errada, pois as medidas foram feitas de acordo com a opiniao maioritaria dos elementos da direccao e da lista de colaboracoes, nao foi a opiniao do individuo A, B ou C. E sem estar a ser exaustivo, as decisoes sao sempre tomadas por unanimidade ou de acordo com a tendencia generalizada da maioria dos elementos.
maraujo Escreveu:A ausência de reivindicações de fundo, reivindicações que conduzam a reformas estruturais nas universidades e nos Laboratórios do Estado, parecem dever-se a um facto simples:

Estas iriam colidir com os interesses de outros trabalhadores (afinal o que se quer sempre é distribuir a sopa para todos). Estamos, portanto, mais uma vez, no plano da discussão sindical e não no plano da discussão racional. A única que nos deveria interessar.
Mais uma vez nao me parece razoavel, esta ilacao, pois esta decisao novamente, foi da maioria dos colaboradores e direccao da ABIC. So quem nao conhece a direccao e a lista de colaboradores da ABIC e que pode dizer que estamos ao servico seja de quem for. Como e que alguem que nao conhece estas pessoas pode dar tal opiniao? Acho bastante injusta a opiniao acima.


maraujo Escreveu:Fui bolseiro durante mais de 12 anos e claramente não me revejo neste tipo de argumentação.


Claro, ninguem e obrigado a ver as situacoes pelo mesmo prisma, o que acho novamente graca, e que os factos sao factos, ou seja nao tem havido politica cientifica desde o tempo da entrada da CEE, e isso e um facto se o queremos ver ou nao e um direito que assiste.

maraujo Escreveu:Temo que se continuarmos por esta via não só não contribuiremos para o reforço da ciência em Portugal, como serviremos apenas os interesses de um qualquer partido da oposição que pouco preocupado está no desenvolvimento científico e tecnológico do País.


Acho estranho este tipo de argumento: 1) porque tudo que a ABIC reivindica e justo, independentemente da nossa opcao politica; 2) o reforco da ciencia em Portugal, nao se faz atraves de retorica, onde em Setembro de 2006 o MCES ainda so tinha executado 41% do seu orcamento; e mais factos nao faltam.

maraujo Escreveu:É uma pena que neste País sempre que há uma causa nobre. Sempre que há uma confluência de interesses num determinado grupo de pessoas, aconteça o mesmo. Uma força política, armada em representante das causas nobres, apodera-se de um movimento genuíno e informal com intuito de que este melhor servir os seus interesses. E a partir de aí tudo segue a mesma cantilena de sempre. Lamento mas talvez por ter alguns aninhos mais que alguns de vocês, isto cheira-me a "déjà vu".
Caro Miguel o que me cheira e uma coisita diferente, que nunca houve uma ideia de debater uma salutar troca de ideias, mas antes tentar colar a ABIC a uma determinada forca politica ou forcas politicas, como ja aconteceu varias vezes, por isso desvia-se a atencao do essencial para o acessorio, e isso sim, nao serve o reforco da ciencia em Portugal.

Enviado: quinta nov 02, 2006 9:54 am
por Aragao
Normalmente não me vejo a concordar com o Paulo Silva :) mas tenho de concordar parcialmente com a sua última frase.

Miguel,

Entendo a tua intervenção mas acho que peca em alguns pontos:

i) é injusta porque não é verdade, até ao momento, que a ABIC está politizada. O que não quer dizer que não tome posições políticas, claro. As acções da ABIC vão variando dependendo dos colegas bolseiros disponíveis em cada momento no tempo.

ii) é perigosa porque empurrando a direcção da ABIC (que é plural neste momento) para junto de uma força política a única coisa que se vai fazer é afastar quem não se sente próximo desta. O resultado é no futuro termos realmente uma ABIC colada a uma força política.

iii) algumas das posições particulares e pessoais do colega Paulo Silva não correspondem as posições da generalidade dos bolseiros nem da direcção da ABIC.

iv) argumentos que tens muitos anos (12) de bolseiro são não argumentos porque não te dão mais credibilidade e porque não sabes quantos anos de bolseiros tem as pessoas com quem dialogas.

O esforço nestas coisas é encontrarmos pontos de ideias comuns. Estou certo que, por exemplo, as tuas ideias sobre os problemas da endogamia e a necessidade de resolver essa questão central da ciência portuguesa é partilhada de forma igualmente muito forte pelo colega Paulo Silva.

dito isto acrescento que a ABIC é e segue os caminhos que lhe dermos para seguir. Se não estivermos disponíveis para pelo menos durante um periodo, mesmo que limitado, influenciarmos a sua acção então nunca sentimos sentimento de pertença e o afastamento é fácil.

David