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Boa noite,

Sou novo aqui e gostaria que, todos os mais experientes e dentro do assunto, me esclarecessem algumas duvidas que ainda não consegui encontrar no forum.

1) Quais são as saídas profissionais após um doutoramento ? E quais as vantagens relativamente a quem tem um Mestrado (sem ser o salário) ?
2) O que são os pós-docs ? Qual a sua duração ? Há algum "escalão" superior ao pós-doc ?
3) Qualquer que seja o tipo de "bolsa de investigação" não existe descontos para a segurança social... quais são os benefícios e os prejuízos relativamente a outros regimes de contratos de trabalho ?

Obg

Olá.

Em minha opinião:

NRK7 Escreveu:1) Quais são as saídas profissionais após um doutoramento ? E quais as vantagens relativamente a quem tem um Mestrado (sem ser o salário) ?

A meu ver a questão é se queres seguir uma profissão de investigação ou eventualmente docência universitária (muito difícil na maior parte das áreas) - tirando o prático "é o que consegui". As saídas em concreto dependerão das áreas de formação de cada um. Acho que se não queres fazer investigação ou algo ligado a investigação (em Portugal), o doutoramento à partida não te dá grandes vantagens.

2) O que são os pós-docs ? Qual a sua duração ? Há algum "escalão" superior ao pós-doc ?

Supostamente é um período em que vais aprofundar ou complementar a formação do doutoramento.
Eu encaro isso, se acompanhado de bolsa (pois nada impede de seres pós-doc sem receber bolsa, como no doutoramento), como mais uma bolsa. A duração depende do projecto, não é uma coisa fixa, ex. + ou - 4 anos, como o doutoramento. As bolsas de pós-doc directamente atribuídas pelo concurso da FCT podem (até agora, concurso de 2015) ser de até 6 anos - 2 triénios, com pedido de renovação de bolsa anual, sendo que no fim do 1º triénio há uma avaliação se é concedido mais financiamento ou não.
Mais uma vez, na linha da tua pergunta pragmática de há bocado, creio que as vantagens financeiras não são muitas relativamente a um trabalho numa empresa para alguém com essas habilitações, pelo contrário. Mas, mais uma vez pragmaticamente, em muitas áreas "é o que se consegue arranjar".
Se quiseres seguir na senda das bolsas e afins, depois tens o "Investigador FCT" - http://www.fct.pt/apoios/contratacaodou ... x.phtml.pt

3) Qualquer que seja o tipo de "bolsa de investigação" não existe descontos para a segurança social... quais são os benefícios e os prejuízos relativamente a outros regimes de contratos de trabalho ?

Benefício único que me ocorre - não pagar impostos.
Segurança social - tens o "Seguro Social Voluntário" (SSV), se te deres ao trabalho de tratar dele, que basicamente permite descontos reembolsados pela FCT como se ganhasses 420 euros por mês (ou mais, pagando tu a diferença do teu bolso sem reembolso da FCT). Ou seja, muito pouco. Não tens subsídio de desemprego.
Nota que as bolsas são pagas em 12 meses (e não em 14 como um emprego com contrato de trabalho).

Espero ter ajudado.
Boa sorte.

Obg pelas dicas. É pena não haver um local físico com especialistas de apoio aos bolseiros na região Norte para colocar questões e esclarecer duvidas que às vezes são banais e não são encontrados FAQ's em foruns, nem noutros locais...

Olá a todos!

Gostaria de saber porque é que para os cientistas não existe tipo um contrato por tempo indeterminado como existe para outras profissões...

Já agora, soube que recentemente saiu no site da FCT a contratação de Doutorados durante 5 anos (http://www.fct.pt/apoios/contratacaodou ... s.phtml.pt)... o que vai ser dos candidatos excluídos na lista que indiquei atrás ? :S São destas coisas que uma pessoa fica desmotivada da carreira de investigação... Candidaturas e mais candidaturas para nada... O mesmo se pode dizer sobre tirar um Doutoramento... Se for possível ter subsídio de desemprego e tirar um Doutoramento eu faço isso.

NRK7,

Não poderia estar mais de acordo contigo. A questão da passagem de bolsas de investigação a contratos de trabalho, e a concomitante revogação do actual Estatuto de Bolseiro (EBI) é um das grandes lutas da ABIC.

No entanto, apesar do novo ministro Manuel Heitor ter demonstrado vontade de ir nesse sentido, posto na prática, a transformação não parece ser linear e estão a ser colocadas mais condições e mais entraves.
Se quiseres consultar uma entrevista recente, fica o link: http://www.publico.pt/ciencia/noticia/v ... 72?page=-1

É de facto lamentável que o trabalho de investigação pareça não merecer o estatuto de trabalho, quando é conhecimento que se produz. Mais agravando situações em que se tenta dar bolsa a uma situação que claramente requer um contrato (deixo-te 2 links: http://www.publico.pt/ciencia/noticia/u ... os-1708675 e http://p3.publico.pt/actualidade/educac ... e-investig).

Deixo também o link para o Decreto-Lei que rege a Carreira de Investigação:
https://www.fct.pt/apoios/unidades/esta ... o.phtml.pt

Cumprimentos,
inês almeida

NRK7,

Não poderia estar mais de acordo contigo. A questão da passagem de bolsas de investigação a contratos de trabalho, e a concomitante revogação do actual Estatuto de Bolseiro (EBI), é uma das grandes lutas da ABIC.

No entanto, apesar do novo ministro Manuel Heitor ter demonstrado vontade de ir nesse sentido, posto na prática, a transformação não parece ser linear e estão a ser colocadas mais condições e mais entraves.
Se quiseres consultar uma entrevista recente, fica o link: http://www.publico.pt/ciencia/noticia/v ... 72?page=-1

É de facto lamentável que o trabalho de investigação pareça não merecer o estatuto de trabalho, quando é conhecimento que se produz. Mais agravando situações em que se tenta dar bolsa a uma situação que claramente requer um contrato (deixo-te 2 links: http://www.publico.pt/ciencia/noticia/u ... os-1708675 e http://p3.publico.pt/actualidade/educac ... e-investig).

Deixo também o link para o Decreto-Lei que rege a Carreira de Investigação:
https://www.fct.pt/apoios/unidades/esta ... o.phtml.pt

Cumprimentos,
inês almeida

Obrigado pelas respostas

Saiu hoje esta notícia:

https://www.publico.pt/ciencia/noticia/ ... ho-1727081

Já começa a fazer sentido apostar na investigação, contudo quem tem só uma Licenciatura ou um Mestrado também deveria ter direito a ter Contrato de Trabalho tal como noutras inúmeras áreas que só com Licenciatura (ou mesmo quem tenha só o 12º ano) conseguem contrato de trabalho... Já que nem todos querem um Doutoramento ou porque não podem ou porque há limitação de bolsas. E também não percebo porque é que vêm muitos Investigadores estrangeiros "roubar" os lugares a Investigadores Portugueses... Mas isto sou eu a opinar...

Boa sorte.

Eles vêm roubar da mesma maneira que possivelmente dezenas de milhares de cientista portugueses estao neste preciso momento a roubar lugares a outras pessoas no estrangeiro (entre os quais me incluo).

Mas eu aposto que a maioria dos Cientistas não está disposto a emigrar...Se for por causa do dinheiro, não duvido muito que é a primeira coisa que faça mal tenha o canudo... Agora, não entendo se está mal para trabalhar em Portugal para toda e qualquer área do saber, porque é que vêm para cá os estrangeiros ? Às tantas se um estrangeiro está cá a trabalhar, eu por causa dele não estou a trabalhar junto da família... Mas consigo arranjar emprego no país dele (tenho de emigrar, deixar família e etc. só para ter dinheiro e viver) quando ele podia muito bem estar lá na Terrinha dele...

Ja eu aposto exatamente o contrario: se ha "classe" que esta disposta a emigrar sao os cientistas, que, ceteris paribus, irao para o sitio onde possam se sentir mais realizados profissionalmente, seja em Portugal ou noutro sitio qualquer.
Sobre o resto: por algum motivo ha brasileiros a vir limpar escadas em Portugal e portugueses a ir limpar escadas para a Suiça.

Bom, só se eu estiver a generalizar mal...pelo menos quem terminou o curso no mesmo ano que eu (uns 50) e os novos colegas que conheci em encontros Nacionais desde esse ano (mais de 500 colegas) até aos dias de hoje muitos andam por aí a trabalhar nas Primak, Lidl's e etc.. ou a tirar outra Licenciatura. Só 2 ou 3 é que emigraram porque com sorte conseguiram Bolsa de Doutoramento... E não esquecer os que não conseguem mesmo nadinha, e nem recebem subsídio de desemprego... Mesmo assim eu pergunto: se lá fora há mais e melhores equipamentos a nível de Laboratórios (pois são muito caros e raros), porque é que os estrangeiros vêm para cá tendo noção da realidade ? Bom, só se safa quem é mesmo mesmo bom, ne ?
Eu acho que, enquanto cientistas, nos devíamos unir e ir lá para fora na boa trabalhar, tal como criaram aquele movimento que está a convocar automobilistas do Minho a ir abastecer a Espanha no próximo dia 10 de abril...

Olá NRK7,

vou manifestar a minha opinião pessoal enquanto bolseira e não como posição oficial da ABIC.

1) "se lá fora há mais e melhores equipamentos a nível de Laboratórios (pois são muito caros e raros), porque é que os estrangeiros vêm para cá tendo noção da realidade ?"

Esta ideia do "lá fora é que é melhor" é falaciosa e acaba por ser pejorativa. Lá fora, há coisas boas e muito boas, há coisas assim-assim, e há coisas má e muito más. Tal como cá.
Até porque o "lá fora" é um conceito muito amplo e abarca o "resto do mundo". Por isso, não devemos estar dispostos a aceitar qualquer coisa desde que seja lá fora, porque poderá não corresponder às expectativas (elevadíssimas, muitas vezes) que temos. Penso, pelo contrário, que devemos procurar os sítios que melhor poderão contribuir para a nossa formação, tendo em conta os nossos objectivos, tanto "lá" como cá.

2) "porque é que vêm muitos Investigadores estrangeiros "roubar" os lugares a Investigadores Portugueses"

Discordo dessa posição de "roubar lugares". Não há lugares marcados nem garantidos, há sim lugares para os quais nos qualificamos e lugares para os quais não nos qualificamos, à escala global. Se abre uma oferta de trabalho (/bolsa), eu tenho um currículo que se adequa, e tenho capacidades à altura, posso concorrer, independentemente do país da oferta. Isto acontece, como disse o colega mikex, tanto para os estrangeiros como para os portugueses. E, muito sinceramente, ainda bem que assim é. A questão das altas taxas de desemprego em Portugal (ou noutros países) já é outra questão e implica outras medidas, e não deve condicionar o livre acesso de qualquer trabalhador (incluindo bolseiros e investigadores de carreira) a qualquer posto de trabalho(/bolsa), independentemente da sua nacionalidade e país de procura.

Votos de sucesso neste processo,
inês

Olá.

Obrigado pela mensagem

Gostaria apenas de saber quem já foi bolseiro de investigação e agora não tem emprego e sabendo que não tem direito a subsídio de desemprego como é que vai pagar as contas da casa, alimentação e etc. ? Alguém sabe como contornar isto mesmo que se candidate a ofertas de emprego que exijam apenas o 12º ano e depois não são chamados para entrevistas ? Como deixar de ver navios ? Como viver ? Como combater a depressão ? Para quê ler livros para sair um vencedor em entrevistas de emprego se em muitas das ofertas nem sequer chamam os candidatos ? Como é que é também com a questão de contratos para quem é Doutorado ? E os que têm só um Mestrado ou Licenciatura ? A sério, eu começo a ficar saturado com tanta estupidez e injustiça... Eu preciso de dinheiro para viver ! Qualquer dia até para respirar vamos pagar impostos ! Só queria perceber como é que muitos ex-bolseiros que aqui estão conseguem viver numa situação de desemprego (visto que não recebem subsídio de desemprego)... É através de poupanças ? Mesmo nesses casos, o dinheiro vai...

NRK7 Escreveu:Olá.

Obrigado pela mensagem

Gostaria apenas de saber quem já foi bolseiro de investigação e agora não tem emprego e sabendo que não tem direito a subsídio de desemprego como é que vai pagar as contas da casa, alimentação e etc. ? Alguém sabe como contornar isto mesmo que se candidate a ofertas de emprego que exijam apenas o 12º ano e depois não são chamados para entrevistas ? Como deixar de ver navios ? Como viver ? Como combater a depressão ? [...] A sério, eu começo a ficar saturado com tanta estupidez e injustiça... Eu preciso de dinheiro para viver ! [...] Só queria perceber como é que muitos ex-bolseiros que aqui estão conseguem viver numa situação de desemprego (visto que não recebem subsídio de desemprego)... É através de poupanças ? Mesmo nesses casos, o dinheiro vai...

Olá NRK7,
Solidarizo-me 100% com o que dizes. Também eu já fui bolseir@ pós-doc FCT por 3 anos, até que me cortaram a bolsa em 2011 Desde então tem sido o desemprego, o desespero, a fome e até pensamentos suicidas. A maior parte do pessoal da ABIC são bolseiros a quem vão renovando as bolsas; portanto substituir essas bolsas por contratos de trabalho é a sua principal preocupação. Os que ficaram pelo caminho, aqueles a quem cortaram as bolsas e ficaram no desemprego não contam e ñ têm grande representação. Seria útil que a ABIC publicasse quantos dos seus membros são bolseiros e quantos são ex-bolseiros hoje desempregados.
Repara como tanto no Programa de Reformas como na tal notícia do Público (acima), só se fala em contratar actuais bolseiros, jovens e com mais de 3 anos de bolsa, ou seja, muitos ficam fora logo à partida, seja por idade ou por tempo de bolsa.

Digo-te q ñ és o único nessa situação, mas ñ o digo com a complacência habitual dos que têm a barriga cheia e ñ querem conviver com as verdades incómodas (se nos queixamos somos acusados de fazer "chantagem psicológica", pois!..). Digo-o para reforçar a noção de que somos muitos e merecemos representação. Estou ao teu lado, conta com todo o apoio para denunciar esta situação, para melhonar a nossa representação e lutar pela inclusão daqueles a quem cortaram a bolsa e estão no desemprego.
Quanto a mim, tenho €244,76 no banco... estou a dois passos da fome e a ver uma morte lenta e dolorosa aproximar-se inexoravelmente. Sem um "milagre", não chegarei vivo ao fim do ano. Não aceito caridade; aceito um emprego ou uma bolsa. Obrigad@ por tudo e parabéns irónicos a todos os que apoiam esta situação.

Caro umeboshi


1. "A maior parte do pessoal da ABIC são bolseiros a quem vão renovando as bolsas; portanto substituir essas bolsas por contratos de trabalho é a sua principal preocupação."

A ABIC defende a passagem de bolsas a contratos para todos os bolseiros (BD, BPD, BGCT, ...). A parte importante disto é que a passagem de bolsas a contratos de trabalho, de bolseiros a trabalhadores com direito a regime de segurança social pleno, tem em vista também uma maior protecção social em situações de fim de contrato de trabalho.
Por exemplo, enquanto trabalhadores (e salvaguardadas as condições de acesso: http://saldopositivo.cgd.pt/simulador-t ... esemprego/ e http://www.seg-social.pt/subsidio-de-desemprego), os profissionais de investigação científica teriam direito a subsídio de desemprego, o que os colocaria numa situação um pouco mais protegida no contexto actual precário do sistema científico português.


2. "Os que ficaram pelo caminho, aqueles a quem cortaram as bolsas e ficaram no desemprego não contam e ñ têm grande representação. Seria útil que a ABIC publicasse quantos dos seus membros são bolseiros e quantos são ex-bolseiros hoje desempregados. "

a) a ABIC tem uma política de luta contra a actual precariedade do sistema científico (como um todo) português e, nesse sentido, luta (através de pressão para que haja ajustes à/mudanças na lei) para que o desemprego na ciência possa diminuir (consultar a página da ABIC para ter uma ideias das diferentes iniciativas ao longo dos anos: http://www.abic-online.org/). Para além disso, e independentemente da formação/actual vínculo de bolsa dos seus colaboradores, a ABIC tenta dar resposta por meio do Apoio ao Bolseiro às várias situações abusivas que lhe são dadas a conhecer.

b) a ABIC é feita de pessoas que fazem nela trabalho voluntário. a representação dos diferentes tipos de bolsas, de desempregados, ou afins, está a cargo de quem se voluntaria para com ela cooperar.


3. "tanto no Programa de Reformas como na tal notícia do Público (acima), só se fala em contratar actuais bolseiros, jovens e com mais de 3 anos de bolsa, ou seja, muitos ficam fora logo à partida, seja por idade ou por tempo de bolsa."

O Programa de Reformas é um programa do Governo, não um programa instituído pela ABIC. O carácter circunscrito do 'direito a contrato' veiculado pelo actual Governo é, aliás, um dos pontos de luta da ABIC. Como disse acima, a ABIC luta por contratos para todos os profissionais de ciência, não apenas para PostDocs, e não apenas para "alguns" PostDocs. Vejamos o exemplo dos Bolseiros de Gestão em Ciência e Tecnologia (BGCT) que muitas vezes acabam por ter funções que suprem necessidades permanentes das instituições a que estão vinculados não tendo, no entanto, direito a contrato de trabalho, nem sequer a um contrato de trabalho a termo certo (http://meusalario.pt/inicio/direitos-do ... e-trabalho).