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Caros colegas,

A semana passada postei aqui no fórum uma dúvida que tinha relativamente à minha situação pessoal. Em resumo, estou no 2º ano de bolsa de doutoramento e o meu marido trabalha e vive em Espanha. Este ano, por imposições económicas, não podemos sustentar uma casa em Portugal e outra em Espanha e expus esta situação à minha orientadora. Disse-lhe que devido a este facto, teria de me mudar para Espanha mas continuaria a vir às reuniões mensais e a estar em Portugal na altura da recolha de dados e sempre que fosse necessário. Ela disse-me tudo bem, que a única limitação que via era ao nível da recolha de dados, ao que eu respondi que sempre que fosse necessário em estaria em Portugal para fazer as recolhas. No final desta conversa, ela pediu-me para colocar isto por escrito. Assim fiz, ontem entreguei-lhe uma carta a expor a situação, que por razões pessoas teria que mudar-me para Espanha, mas que me comprometia a fazer o meu trabalho. E ela disse-me que não podia aceitar esta situação, que não era obrigada a aceitar que um aluno se chegasse ao pé dela e dissesse que ia viver no estrangeiro e que não confiava que eu conseguisse cumprir os objectivos do meu trabalho, estando no estrangeiro.
Para piorar esta situação disse-me que ia dar um parecer negativo ao meu relatório de progresso dentro da minha instituição e que ia reportar esta situação à FCT e fazer um parecer negativo também para esta instituição. Fiquei sem chão, não estava à espera, estou no 2º ano, mas que acaba por ser o meu 1º ano, uma vez que mudei de orientador. Tenho cumprido tudo o que me tem sido solicitado, ia começar agora uma recolha de dados para um estudo e recebi esta notícia. Para além do mau tom com que as coisas foram ditas, eu perguntei-lhe "Então e agora?" e ela respondeu-me "Agora, daqui a 2 semanas tens de apresentar-me trabalho!". Não percebi se me estava a ameaçar ou se se contradisse, apenas...
As minhas dúvidas relativamente a esta situação é: se um orientador der um parecer negativo à FCT, baseando-se nesta minha situação, o que é que a FCT fará?
Ao nível regulamentar, isto é possível? Um orientar "cortar as pernas" a um aluno no 2º ano de doutoramento?
Agradeço a vossa ajuda e "iluminação" para esta minha situação

Obrigada.

Ola'

O que esta' no regulamento é:
http://www.fct.pt/apoios/bolsas/regulamento.phtml.pt

Artigo 33º – Cancelamento da bolsa

1. A bolsa pode ser cancelada em resultado de inspeção promovida pela FCT após análise das informações prestadas pelo bolseiro, pelo orientador científico ou responsável pela atividade do candidato, ou pela instituição de acolhimento.
2. Uma avaliação negativa do desempenho do bolseiro de doutoramento por parte da instituição de acolhimento e do orientador científico acarreta, em regra, o cancelamento da bolsa, após audição do bolseiro pela FCT.
3. Uma avaliação negativa do desempenho do bolseiro de pós-doutoramento por parte da instituição de acolhimento e do responsável nessa instituição pelo acompanhamento das atividades de investigação acarreta, em regra, o cancelamento da bolsa, após audição do bolseiro pela FCT, salvo quando esteja em causa a sua transferência para outra instituição científica e quando exista parecer, independente e fundamentado, favorável a essa transferência.
4. Para além dos motivos expressamente previstos no presente diploma, determina o cancelamento da bolsa a violação grave ou reiterada dos deveres do bolseiro constantes do presente regulamento e do Estatuto do Bolseiro de Investigação, aprovado pela Lei nº 40/2004, de 18 de agosto, podendo ser exigida consoante o caso concreto a restituição da totalidade ou parte das importâncias atribuídas ao bolseiro.

Portanto, se a tua orientadora te passar um parecer negativo, poderas perder a bolsa (a menos que consigas provar que ela esta' a agir de ma' fe'), e ate' no limite ser obrigada a devolver o que ja' te foi pago de bolsa - ainda que isso ja' me pareca mais dificil na pratica. Ate' porque so' agora se coloca a questao de ires residir no estrangeiro.

Aparentemente pelo "Agora, daqui a 2 semanas tens de apresentar-me trabalho!" ela "apenas" quer que nao vas para o estrangeiro, e se isso nao acontecer tambem possivelmente nao cumprira' a ameaca. Mas imagino que deves estar com uma vontade tremenda de continuar a trabalhar com essa pessoa...

Nota que pelo novo Estatuto do Bolseiro podes tambem ter de devolver dinheiro da bolsa se desistires a partir do 3° ano de bolsa (pressupondo 4 anos de bolsa) - ve http://forum.bolseiros.org/viewtopic.php?f=4&p=30029. Por isso convem que, a tomares alguma decisao no sentido de desistir, o facas ate' ao fim do 2° ano.

Boa sorte.

Gataroxa5 Escreveu:Ela disse-me tudo bem, que a única limitação que via era ao nível da recolha de dados, ao que eu respondi que sempre que fosse necessário em estaria em Portugal para fazer as recolhas. No final desta conversa, ela pediu-me para colocar isto por escrito. Assim fiz, ontem entreguei-lhe uma carta a expor a situação, que por razões pessoas teria que mudar-me para Espanha, mas que me comprometia a fazer o meu trabalho. E ela disse-me que não podia aceitar esta situação, que não era obrigada a aceitar que um aluno se chegasse ao pé dela e dissesse que ia viver no estrangeiro e que não confiava que eu conseguisse cumprir os objectivos do meu trabalho, estando no estrangeiro.

Mudou alguma coisa na tua relação com a orientadora desde que lhe falaste pela primeira vez na situação? Parece ter havido uma alteração drástica na atitude dela em relação à tua ida para Espanha...

Infelizmente, as alegações que ela faz são difíceis de contestar junto da FCT ou de qualquer outra entidade financiadora, pelo que acredito que o melhor a fazer será apostares na diplomacia com a pessoa e tentares perceber o que fez com que ela mudasse tão radicalmente a sua posição sobre o assunto e o que podes fazer para que a opinião dela passe a ser (mais) favorável.

A título de curiosidade, a tua orientadora é líder/presidente do grupo/laboratório/departamento em que trabalhas?

Gataroxa5 Escreveu:Para piorar esta situação disse-me que ia dar um parecer negativo ao meu relatório de progresso dentro da minha instituição e que ia reportar esta situação à FCT e fazer um parecer negativo também para esta instituição. Fiquei sem chão, não estava à espera, estou no 2º ano, mas que acaba por ser o meu 1º ano, uma vez que mudei de orientador. Tenho cumprido tudo o que me tem sido solicitado, ia começar agora uma recolha de dados para um estudo e recebi esta notícia. Para além do mau tom com que as coisas foram ditas, eu perguntei-lhe "Então e agora?" e ela respondeu-me "Agora, daqui a 2 semanas tens de apresentar-me trabalho!". Não percebi se me estava a ameaçar ou se se contradisse, apenas...

Pois, parece de facto haver uma certa contradição. Se ela acha que o projecto não tem pernas para andar e deve ser suspenso, não deve esperar que lhe apresentes (mais) trabalho.

Uma vez mais, parece-me que a melhor aposta será o diálogo, numa tentativa de chegar a um acordo que implique o parecer favorável da orientadora sobre o cumprimento e viabilidade do teu plano de trabalhos. De outro modo, não vejo como é que esta situação poderá acabar bem para ti.

Gataroxa5 Escreveu:As minhas dúvidas relativamente a esta situação é: se um orientador der um parecer negativo à FCT, baseando-se nesta minha situação, o que é que a FCT fará? Ao nível regulamentar, isto é possível? Um orientar "cortar as pernas" a um aluno no 2º ano de doutoramento?

Mal estava se não fosse possível. Vais mudar de país e restringir fortemente o número de vezes que te deslocas ao local de trabalho, uma decisão que tomaste unilateralmente e que comunicaste à orientadora apenas a posteriori.

A orientadora tem todos os motivos e mais alguns para declarar que, nas actuais condições, o compromisso que assumiu para com a FCT aquando da tua candidatura não será exequível nestas novas condições. Uma vez mais, a menos que, por meio do diálogo amigável, consigas que a orientadora mude a sua posição sobre o assunto, creio estares em muito maus lençóis no que à continuidade da bolsa diz respeito.

Infelizmente, também me parece que o facto de já teres mudado uma vez de orientador não abona a teu favor junto da FCT.

Colegas,

Obrigada pelas vossas respostas! Vou falar com a minha orientadora na segunda feira e saber o que se pode fazer para que esta história termine da melhor forma.

A única coisa que tenho medo, à parte da triste impossibilidade de prosseguir com o doutoramento, é ter que restituir todo o dinheiro que a FCT já me pagou até à data. Esse é o meu maior receio

Mais uma vez obrigada pelas vossas respostas.

Gataroxa5 Escreveu:A única coisa que tenho medo, à parte da triste impossibilidade de prosseguir com o doutoramento, é ter que restituir todo o dinheiro que a FCT já me pagou até à data. Esse é o meu maior receio

Tanto quanto sei podes desistir sem penalização, desde que o faças antes do terceiro ano, como disse o colega spca.

Gataroxa5 Escreveu:Colegas,

Obrigada pelas vossas respostas! Vou falar com a minha orientadora na segunda feira e saber o que se pode fazer para que esta história termine da melhor forma.

A única coisa que tenho medo, à parte da triste impossibilidade de prosseguir com o doutoramento, é ter que restituir todo o dinheiro que a FCT já me pagou até à data. Esse é o meu maior receio

Mais uma vez obrigada pelas vossas respostas.

Conforme disse anteriormente, parece-me que ela esta a fazer isto para nao ires para Espanha, caso contrario nao faria sentido o dizer "Agora, daqui a 2 semanas tens de apresentar-me trabalho!". Que nao quer verdadeiramente "romper" contigo. Agora, teras de ver se estas disposta a ceder nisso. Ou tentar procurar um meio-termo, estando mais tempo por ca' por ex. num alojamento mais barato, ex. um quarto.
Ela nao tem necessariamente a faca e o queijo na mao. Se desistires do doutoramento, nao é bom para ela tambem - significa que ela falhou na tua orientacao, quer para a FCT quer para a universidade, nao ganha curriculo pois nao te doutoraste nem publicaste, etc, e perde mao-de-obra que nao esta' a pagar. Portanto, é tambem do interesse dela que cheguem a acordo.

Boa sorte.

Estou a falar sem saber, mas é possível que "Agora, daqui a 2 semanas tens de apresentar-me trabalho!" seja porque é daqui a 2 semanas que te vais embora e, tendo tu feito algum trabalho este ano que estiveste com ela, ela queira ter os resultados desse ano de trabalho?

Caros colegas,

@Phdwannabe - Não, a minha orientadora não preside a nenhum laboratório ou grupo de investigação. Uma coisa que não entendi é se a minha orientadora enviar um parecer negativo para a FCT a dizer que não quer que me renovem mais a bolsa, não será propriamente uma desistência da minha parte, e portanto a minha bolsa ficará suspensa, correcto?

@SPCA - Eu também acho que ela não quer que eu vá para Espanha. Vou ter uma reunião na segunda feira a ver como se pode contornar esta situação, uma vez que, desde que eu vá cumprindo os objectivos do trabalho, não existe nada no contrato com a FCT que me diga que eu sou obrigada a desempenhar o meu trabalho (leituras, escritas, planeamento de estudos) na minha instituição de acolhimento.

@Anidras - Eu tenho um primeiro estudo montado e o que ela quer é um mapeamento das recolhas dos dados. Portanto, ainda não são propriamente resultados. O que sinto é que é uma mensagem contraditória, e como já respondi ao colega SPCA, parece-me um pouco bluff. Seja como for, terei de chegar a um meio termo, coisa que nunca me recusei!

Obrigada a todos pelos vossos comentários e ajuda.

Bom fim de semana!

Gataroxa5 Escreveu:Caros colegas,

@Phdwannabe - Não, a minha orientadora não preside a nenhum laboratório ou grupo de investigação. Uma coisa que não entendi é se a minha orientadora enviar um parecer negativo para a FCT a dizer que não quer que me renovem mais a bolsa, não será propriamente uma desistência da minha parte, e portanto a minha bolsa ficará suspensa, correcto?

Não tendo esta parte sido dirigido a mim, parece-me óbvio que a tua orientadora mandar um parecer negativo do teu trabalho, ou seja, dizer que, na melhor das hipóteses, tiveste um mau desempenho, se não for dizer que faltaste aos teus deveres, não trabalhaste, agiste contra as indicações dela, etc. é muito pior que se pura e simplesmente desistires. Quão pior, dependerá de quão mal ela falar de ti... E do entendimento de quem ficar com o teu processo na FCT se isso acontecer.

Gataroxa5 Escreveu: @SPCA - Eu também acho que ela não quer que eu vá para Espanha. Vou ter uma reunião na segunda feira a ver como se pode contornar esta situação, uma vez que, desde que eu vá cumprindo os objectivos do trabalho, não existe nada no contrato com a FCT que me diga que eu sou obrigada a desempenhar o meu trabalho (leituras, escritas, planeamento de estudos) na minha instituição de acolhimento.

Não está escrito especificamente isso, mas a prática tem sido que terás de fazer as coisas de acordo com o parecer / orientações do(s) teu orientador. Se a tua orientadora entende que tens de fazer todo o trabalho aqui, creio que para a FCT estarás em incumprimento se não o fizeres. Se fosses pós-doc poderia ser mais discutível, mas sendo mera estudante de doutoramento, ainda mais no início do doutoramento, é assim que as coisas são... Terás de convencer a tua orientadora dos teus argumentos, ou pelo menos a não levantar problemas. Caso contrário, ou lhe obedeces, ou sujeitas-te às consequências de eventual parecer negativo e eventual retirada da bolsa (que não é automática, em teoria terás de ser ouvida pela FCT, tal como ela), e outras que eventualmente te surjam na tua instituição de acolhimento.

Boa sorte.

Se fosse eu e se via que um parecer negativo (plausível) estava iminente, possivelmente dizia à orientadora e à FCT que não poderia continuar a bolsa porque motivos pessoais levaram a que fosse incompatível manter o plano de trabalhos com a tua nova situação de vida (e explicava tudinho à FCT: tive que ir viver para Espanha, tentei arranjar uma solução, mas juntamente com a orientadora concluímos que o plano de trabalhos estava comprometido).
Acho preferível desistir do que levar com um processo devido a um parecer negativo que me poderia queimar por muitos e bons anos quer na FCT quer no meio académico nacional. Uma desistência por motivos pessoais é facilmente explicável no futuro (a vida dá muitas voltas, e às vezes os nossos planos não são passíveis de serem concretizados), um «despedimento» vai ser sempre olhado de canto e qualquer explicação dada, por muita razão que tenha, terá sempre o estigma de «é uma desculpa que me estão a dar» associada a ela.

Boa sorte. Espero que tudo corra pelo melhor.