Caros colegas,
Encontrando-me ainda em período de bolsa de doutoramento, verifico que devo começar a preocupar-me com os critérios de avaliação da(s) "bolsa(s) que se segue(m)"... Será que me podem ajudar? O que se entende por "continuidade do plano de trabalhos"? Se o projecto de doutoramento tiver como enquadramento temático, por exemplo, o estudo literário de uma autora do século XX na perspectiva dos estudos de mulheres, será que a bolsa de pos-doc poderá ser recusada se o projecto se basear no mesmo enquadramento, embora com enfoque numa outra autora? Relativamente à necessidade de exibirmos no nosso currículo artigos científicos, terão estes que se debruçar antecipadamente sobre o objecto de análise do pos-doc, ou interessam pela sua qualidade e quantidade, independemente da área (i.e., podem ser artigos resultantes do trabalho de doutoramento)? Poderá um(a) candidato(a) com artigos publicados sobre o tema do doutoramento ser classificado(a) como não tendo currículo relevante na área? As minhas dúvidas prendem-se, aqui, com a abrangência da noção de "área ciêntifica". Será área "estudos literários" ou "pós-modernismo português/Saramago"?
Um obrigada antecipado.
Pos-doc - mérito do candidato
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Tanto quanto sei, um candidato de pós-doc será penalizado se apresentar um projecto cujos objectivos forem coincidentes com os que tenha apresentado num projecto anterior (seja de doutoramento, seja de um primeiro pós-doc), ou seja, não deve analisar o mesmo autor ou período literário (a não ser que haja um interesse especial em repetir o objecto de estudo; no caso de este se inserir num projecto do centro de investigação, por exemplo).
Penso que isto é matar à partida qualquer possibilidade de desenvolver uma investigação de qualidade nos Estudos Literários (onde por norma são precisos bastantes anos de estudo numa determinada área para atingir um determinado nível de excelência), mas são as regras do jogo...
Quanto aos artigos, desde que eles sejam peer-reviewed, serão sempre considerados, mesmo que não estejam relacionados com o projecto a apresentar (afinal, pelas razões acima expostas, é muito difícil que estejam) ou com a investigação desenvolvida durante o doutoramento. Não existe nenhuma outra condição a não ser a do peer review.
Penso que isto é matar à partida qualquer possibilidade de desenvolver uma investigação de qualidade nos Estudos Literários (onde por norma são precisos bastantes anos de estudo numa determinada área para atingir um determinado nível de excelência), mas são as regras do jogo...
Quanto aos artigos, desde que eles sejam peer-reviewed, serão sempre considerados, mesmo que não estejam relacionados com o projecto a apresentar (afinal, pelas razões acima expostas, é muito difícil que estejam) ou com a investigação desenvolvida durante o doutoramento. Não existe nenhuma outra condição a não ser a do peer review.
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De facto...
De facto, ter que "abandonar" um tema de especialização na área dos Estudos Literários para obter financiamento é perder todo um capital acumulado (de leituras e aquisição física de monografias) que leva tempo a adquirir. Parece-me díficil, assim, conseguir construir um programa de trabalhos consistente e teoricamente fundamentado nos poucos meses que vão desde a conclusão do doutoramento e a candidatura ao pos-doc.
Aproveito para felicitar o fórum pela sua pronta ajuda ao bolseiros!!!
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Apesar de tudo, o pós-doc também não é o mesmo que perder tudo e recomeçar da estaca zero.
Nada impede que um "desconstrucionista", um "sistemicista" ou um "pós-colonialista" continue a estudar a literatura de acordo com a perspectiva que adoptara; "apenas" vai ter de escolher um autor diferente, de um período diferente. É um pouco como: "se estudaste Saramago, não deves estudar Lídia Jorge, mas podes estudar Irene Lisboa".
É evidente que isto tem consequências, como o excessivo predomínio da Teoria da Literatura em detrimento da críitica literária propriamente dita. Isso é aliás particularmente visível nos Estados Unidos onde, por motivos diferentes (neste caso, a necessidade imperiosa de publicar artigos todos os semestres), também é muito difícil aos estudantes estudarem um determinado autor por um tempo razoável; tanto assim que se cai muitas muitas vezes no erro de aplicar à força (o chamado shoehorning) uma determinada teoria a qualquer texto literário que apareça à frente (daí artigos como "O Amor Lésbico nos Romances Arturianos").
Nada impede que um "desconstrucionista", um "sistemicista" ou um "pós-colonialista" continue a estudar a literatura de acordo com a perspectiva que adoptara; "apenas" vai ter de escolher um autor diferente, de um período diferente. É um pouco como: "se estudaste Saramago, não deves estudar Lídia Jorge, mas podes estudar Irene Lisboa".
É evidente que isto tem consequências, como o excessivo predomínio da Teoria da Literatura em detrimento da críitica literária propriamente dita. Isso é aliás particularmente visível nos Estados Unidos onde, por motivos diferentes (neste caso, a necessidade imperiosa de publicar artigos todos os semestres), também é muito difícil aos estudantes estudarem um determinado autor por um tempo razoável; tanto assim que se cai muitas muitas vezes no erro de aplicar à força (o chamado shoehorning) uma determinada teoria a qualquer texto literário que apareça à frente (daí artigos como "O Amor Lésbico nos Romances Arturianos").
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Criterios
Eu acho mal este criterio, pois acabamos por perder muita coisa quando comecamos de novo, e a pressao para publicar e grande.