Emprego cientifico temos nos que criar!

Emprego científico ou emprego para cientistas? Porquê? Para quê? Que futuro?
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Qual das duas opcoes descritas e que perferem?

Ficar em Portugal e iniciar colacoracoes a nivel internacional
5
56%
Sair de Portugal a procura de fundos
4
44%
 
Total de votos: 9

Luciano A. G. Lucas
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Emprego cientifico temos nos que criar!

Mensagem por Luciano A. G. Lucas »

Caros colegas,

Desde ja devo dizer que a Conferencia no passado dia 19 foi muito interessante (muitos parabens para quem a organizou... so foi pena o Presidente "estar a trabalhar com o Primeiro Ministro").

Em relacao a criacao do emprego cientifico. a minha visao e simples (talvez demais diram alguns). A grande maioria da investigacao em portugal e feita por bolseiros e muito pouca e feita por investigadores com emprego. Pelo que percebo e isso que queremos mudar. Queremos ser investigadores mas com um emprego "fixo". No meu ver temos/tem duas opcoes:

1) vem para fora de portugal onde as condicoes sao melhores (mas nao sao "um mar de rosas". E depois mais tarde voltao ja com as proprias fontes de investimento/fundos monetarios para fazer a investigacao que querem;

ou

2) ficam em portugal e iniciam colaboracoes a nivel internacional de forma a poderem lutar por fundos de investigacao a nivel internacional (NATO, UE, etc, etc,...).

Eu acho que a segunda opcao e bem melhor porque dessa forma nao se da a tal "fuga de cerebros" de que tanto se fala e ao mesmo tempo melhora-se a qualidade e quantidade da investigacao em portugal.

Nao me vou alargar muito pois nao quero complicar mais este assunto.

Deem a vossa opiniao e podem ate votar (nao sei se o sistema de votos vai funcionar...)

ate breve,
Luciano.

Aragao
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Mensagem por Aragao »

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eu a título pessoal acho que é bom para formação individual passar temporadas no estrangeiro se não mesmo ficar lá uns anos. Em nenhum lado do mundo se faz ciência da mesma forma... essas aprendizagens que se fazem valem para a vida e permitem fazer mais e melhor ciência. Nesse contexto parece-me se a vontade do cientista for no final voltar para Portugal até seria mais benéfico ele voltar já com as suas fontes de financiamento.

David

Helena Ferreira
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Mensagem por Helena Ferreira »

Eu concordo com o David: trabalhar no estrangeiro durante alguns anos é benéfico para um investigador por várias razões. Por um lado para melhorar o "o que se faz" (outras ideias e técnicas) e por outro o "como se faz" (outros métodos de trabalho). Não numa perspectiva de "lá fora é que se faz bem", mas de que é mais fácil enriquecer intelectualmente por exposição à diversidade.

Quanto à questão do financiamento parece-me que a passagem pelo estrangeiro é também a melhor opção. Parece-me que o financiamento acaba por vir "atrelado" à rede de contactos que a actividade de investigação gera, especialmente quando os projectos conjuntos entre várias equipas são cada vez mais premiados. Parece-me que a opção de ficar em inteiramente Portugal é manifestamente desfavorável neste aspecto. Somos apesar de tudo muito periféricos em termos geográficos e assim é (mais) difícil estabelecer os necessários contactos.

Além disto há que pensar que uma boa produção científica (como é necessária para atrair os financiamentos) necessita de condições mínimas para ser desenvolvida, coisa que neste momento em Portugal é muito difícil. Quando não há dinheiro para deslocações em trabalho (por exemplo) não se pode fazer investigação de qualidade...é difícil construir uma carreira sólida...e é difícil chegar aos financiamentos.

Por fim, acho que não é por espírito patriota que os bolseiros devem ficar em Portugal resistindo estóicamente a todas as adversidades. Poderão ficar por que razões assim o entendam mas esta parece-me falaciosa. Afinal podem sempre voltar mais tarde com mais condições de investigação e de emprego e dar o seu contributo para o desenvolvimento do seu país. Não é a mortificação dos bolseiros que melhora a produção científica nacional... :shock:

aragorn
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Mensagem por aragorn »

Eu acho que a segunda opcao e bem melhor porque dessa forma nao se da a tal "fuga de cerebros" de que tanto se fala e ao mesmo tempo melhora-se a qualidade e quantidade da investigacao em portugal.
Eu não acho que haja exactamente fuga de cérebros. Há expulsão de cérebros do país!

As condições "higiénicas" para a ciência em Portugal são, de facto muito más. Eu não consigo perceber porque é as instituições apenas são obrigadas a fazer o pagamento do Seg. Social Voluntário com base no ordenado mínimo (que sentido é que isto tem?!?). As dificuldades com a obtenção de empréstimos junto da banca podem criar problemas de emancipação e dignidade. O regime de exlusividade do bolseiro... porquê? Há que garantir que o bolseiro se integre o minimo possível na "restante" sociedade? Que sentido é que isto faz?!? Isto já para não falar na precaridade destes recursos humanos altamente qualificados.

Em paralelo a esta situação, que é a realidade, há um discurso (que ouvi variadas vezes no Forum do Emprego Cientifico), com chavões e declarações de intenções como:

"É preciso fixar os investigadores em Portugal"
"Até 2010 subir o orçamento para a ciência até 3% do PIB"
"A base do desenvolvimento de Portugal é a inovação"
"Precisamos de mais cientistas"

Mas isto é ridiculo! Precisamos de mais cientistas, não há tecido organizacional para integrá-los. As condições dos bolseiros ficam na mesma.

Há uma disparidade completa entre o discurso e as acções dos decisores políticos!

E, nesse contextos, condordo com a Helena Ferreira. Não nos cabe minimamente a obrigação de cumprir uma missão estóica de continuar a fazer investigação no nosso país, porque é assim melhor para Portugal.

Tem haver uma estratégia clara de aposta nesse caminho, do país, do governo, da sociedade. Se não houver, aceito perfeitamente a evidência de que vamos - por exemplo - basear o nosso modelo de desenvolvimento no turismo. Mas que isso seja assumido, para não nos andarem a enganar.

Agora esta dualidade entre o discurso e as acções é que me parece bastante desonesta.

Aragao
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Mensagem por Aragao »

aragorn Escreveu: Há uma disparidade completa entre o discurso e as acções dos decisores políticos!

E, nesse contextos, condordo com a Helena Ferreira. Não nos cabe minimamente a obrigação de cumprir uma missão estóica de continuar a fazer investigação no nosso país, porque é assim melhor para Portugal.

Tem haver uma estratégia clara de aposta nesse caminho, do país, do governo, da sociedade. Se não houver, aceito perfeitamente a evidência de que vamos - por exemplo - basear o nosso modelo de desenvolvimento no turismo. Mas que isso seja assumido, para não nos andarem a enganar.

Agora esta dualidade entre o discurso e as acções é que me parece bastante desonesta.
Nao posso concordar mais contigo Aragorn.

Nesse contexto... vejo incongruencia no discurso do presidente da FCT.

"Vamos diminuir as bolsas para doutoramentos no UK porque la paga-se propinas"
Ramoa Ribeiro, Dezembro 2002, reuniao da comissao instaladora da APDF (associacao Portuguesa de Doutorados em Franca)

"Vamos diminuir as boltas de doutoramento totalmente fora de Portugal porque nao temos de estar a pagar para pessoas se doutorarem fora e nunca mais voltarem, devemos manter um elo de ligacao a Portugal para tirarmos partido dessa boa ciencia que se faz fora"
Ramoa Ribeiro, presidente da APDF, Dezembro 2003


No entanto parece-me que tirando os coelhos que a Ministra resolveu tirar da cartola e tentar surpreender.... a politica deste governo tem sido bem clara quanto a Ciencia, aos bolseiros e ao projecto para Portugal nessa area (vide documentos no site www.bolseiros.org sobre a entrevista de secretario de estado no passado).

David Aragao

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