Manifesto pelo Emprego Científico

Emprego científico ou emprego para cientistas? Porquê? Para quê? Que futuro?
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João Ferreira
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Manifesto pelo Emprego Científico

Mensagem por João Ferreira »

Caros colegas,

Tendo em conta os desenvolvimentos recentes na vida política nacional, a demissão do governo e a proximidade de eleições, e na sequência de alguns contributos nesse sentido, entendeu-se apropriado reformular a parte inicial do abaixo-assinado.

Assim, aqui fica a versão (até agora) final do mesmo. Novos comentários e sugestões serão benvindos.
MANIFESTO
Por Uma Efectiva Política Nacional de Emprego Científico:
Uma Necessidade Inadiável.


Poucos temas recolherão hoje tão amplo consenso como a necessidade de criação de emprego científico. A sua promoção é frequentemente considerada condição essencial para o desenvolvimento nacional e para a superação do nosso atraso estrutural.
Contudo, no plano da resposta concreta a esta imperiosa necessidade, tem persistido uma preocupante ausência de políticas e medidas concretas, de fundo, que alterarem a actual situação de franca carência.
A questão do emprego científico, da sua escassez e precariedade, muito mais do que um problema individual – dos licenciados, mestres e doutores que o procuram uma vez terminada a sua formação académica – é pela sua dimensão e significado um grave problema nacional.
O desperdício de recursos humanos e de “saber fazer” que decorre de um sistema de formação avançada sem correspondência com um adequado sistema de inserção profissional, terá consequências particularmente penosas num país, como Portugal, reconhecidamente carente de quadros e de uma estratégia de desenvolvimento harmonioso e sustentável, que promova a inovação, assente no investimento na ciência e na tecnologia como factor decisivo de progresso.
Na resolução deste problema, impõe-se a adopção de políticas pró-activas de promoção do emprego científico. Políticas que reforcem as oportunidades de emprego existentes e que apostem audaciosa e decididamente na criação de novas oportunidades e mecanismos de atracção e inserção profissional de jovens qualificados nas mais diversas áreas do conhecimento e do saber.
De entre as medidas necessárias – nas quais se incluem algumas das recomendações constantes de inúmeros estudos e pareceres, quer globais quer sectoriais, nacionais e internacionais, realizados nos últimos anos, – destacamos:
  • o A criação de mecanismos de financiamento que permitam a contratação de pessoal pelas unidades de I&D; as necessidades de pessoal inerentes ao desenvolvimento dos projectos de investigação, sempre que de natureza temporária, deverão ser preenchidas com recurso à figura do contrato de trabalho e não utilizando abusivamente bolseiros de investigação, como hoje sucede;

    o A integração de jovens investigadores, docentes e técnicos nos quadros de pessoal das Universidades e demais instituições de ensino superior e Laboratórios do Estado, com o descongelamento de novas admissões e o preenchimento de vagas existentes e a criar (na sequência, sublinhe-se, das recomendações feitas pelos painéis externos de avaliação destas instituições);

    o O reforço do papel destas instituições no apoio ao delinear de políticas públicas, nomeadamente ao nível sectorial, e a criação de “interfaces” com o sector produtivo, a indústria e o tecido empresarial, promovendo a transferência do conhecimento produzido nestas instituições, demonstrando a utilidade da sua integração na actividade das empresas, despertando as necessidades hoje não sentidas pela generalidade dos empresários;

    o A continuação do apoio à inserção profissional de pós-graduados nas empresas, nomeadamente financiando os custos de pessoal numa fase inicial e a concessão de outros incentivos financeiros, incluindo incentivos fiscais, às empresas que empreguem mestres e doutores;

    o Reforçar o apoio e incentivo à criação de empresas, que contribuam para o lançamento de novos produtos processos ou serviços, por licenciados, mestres e doutores;

    o Promoção de emprego científico em associação a áreas de grandes investimentos públicos, em grandes empresas públicas ou com participação estatal;

    o Abertura da administração pública à inovação, com integração de pessoal qualificado (e não apenas de mais bolseiros), incluindo mestres e doutores, nos vários organismos e entidades da administração central e local.
Consideramos que a situação de bloqueio que enfrentamos, torna imperiosa a definição de uma estratégia de desenvolvimento nacional que se apoie e articule, entre outras, com uma verdadeira política científica. Esta, por sua vez, e reafirmamo-lo, não será possível senão sustentada por políticas de emprego científico consequentes e pela dignificação das condições de prestação do trabalho científico.

Paulo J. N. Silva
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Reflexão

Mensagem por Paulo J. N. Silva »

O Manifesto acima posto como ponto de partida está bom. No entanto penso que devemos desenvolver mais quer a introdução quer as medidas que apontamos. Nunca iremos agradar a todos, quer os diversos quadrantes políticos, quer a totalidade dos investigadores.


Uma sociedade só se poderá desenvolver socialmente e economicamente quando no seu tecido produtivo existirem bons quadros técnicos. Em Portugal com diversas acções de formação de recursos humanos avançados, com dinheiro da UE (maioritário) e do orçamento de estado, e através, fundamentalmente da FCT, elevou-se o número de cidadãos com competências únicas em qualquer área do saber/conhecimento. É agora, importante que este conhecimento adquirido possa ser aproveitado pela sociedade portuguesa, elevando o lugar de Portugal na Europa dos 25, quer no desenvolvimento social quer económico. Portugal que todos queremos mais avançado e desenvolvido deve incorporar todos estes investigadores em formação e já formados através de políticas que incentivem a criação de emprego científico quer no sector público quer no sector privado. Se a cimeira de Lisboa em 2000 e posteriormente a cimeira de Barcelona 2002, confirmaram o imperativo de se criar, na Europa da União Europeia, cerca de 500000 novos investigadores, como forma de tornar a Europa líder no conhecimento, é importante que Portugal cumpra também a sua parte, aumentando o PIB dispendido em ciência e tecnologia para 3% até 2010, e paralelamente, aumentando a contribuição pública para, pelo menos 1% do PIB contra os 0,63% actuais (OCES). Tem de existir vontade política para que independentemente dos governos em exercício, haja uma continuidade ao nível da política nacional de desenvolvimento cientifico consubstanciada numa política de emprego cientifico. O que acontece actualmente é a existência de hiatos de gerações nos organismos públicos, quer Universidades/Politécnicos/ES, quer Laboratórios de Estado quer Laboratórios Associados, quer em Institutos de investigação Públicos. Este vazio tem no entanto sido parcialmente preenchido pelo recurso a bolseiros, que não têm qualquer contrato de trabalho, nem tão pouco um regime de segurança social condigno. Por outro lado devido às manifestas carências organizativas por parte da máquina, mais que ultrapassada de gestão da ciência em Portugal, muitos bons investigadores, simplesmente abandonam o país para sempre. Assim existem medidas que podem ser executadas para que o emprego científico com direitos seja uma realidade (a ordem é arbitrária):

1) abertura de vagas em todas as Universidades/Politécnicos, de forma a que o racio Alunos/Professor se aproxime de 10. Não existem estatisticas de Portugal na OCDE, e as disponiveis no site do MCIES não respeitam a forma estatistica da OCDE, mas por exemplo na Suécia o racio e 9,1 e em Portugal de acordo com os dados disponíveis (e que não respeitam as guidelines da OCDE) será de 14 se juntarmos o ensino Universitário e o Ensino Politécnico.
2) desburocratização de procedimentos para concursos a dinheiros para a ciência em geral por um lado, e por outro critérios de mérito adequados a cada fase do desenvolvimento da carreira do cientista/trabalhador científico (ver http://www.math.ist.utl.pt/~lmagal/Notas2.doc)
3) Mudar a lei do mecenato científico de forma a que as seguintes condições sejam cumpridas: a) aumentar o valor do incentivo fiscal; b) não financiar indirectamente despesas de melhoria dos processos de fabrico/produção.
4) A nível fiscal isentar as empresas de média-alta tecnologia e alta tecnologia de IRC por um período de 9 anos.
5) Dar novamente autonomia financeira aos Laboratórios e outros Institutos Públicos.
6) Inverter o insucesso do Ensino Obrigatório.

As soluções existem haja vontade política de as assumir.

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Mensagem por forum.abic »

O Manifesto encontra-se online para leitura e subscrição:

http://www.bolseiros.org/peticao_1.html

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Mensagem por Aragao »

100 Assinaturas - 31 Jan 2005

314 Assinaturas - 1 Fev 2005

567 Assinaturas - 2 Fev 2005

836 Assinaturas - 3 Fev 2005

958 Assinaturas - 4 Fev 2005

http://www.petitiononline.com/mod_perl/ ... i?abic2005
Última edição por Aragao em sexta fev 04, 2005 11:36 am, editado 1 vez no total.
Wolf Credo: "Respect the elders, Teach the young, Cooperate with the pack, Play when you can, Hunt when you must, Rest in between, Share your affections, Voice your feelings, Leave your mark."
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Mensagem por Aragao »

Última edição por Aragao em quinta mai 26, 2005 5:29 pm, editado 8 vezes no total.
Wolf Credo: "Respect the elders, Teach the young, Cooperate with the pack, Play when you can, Hunt when you must, Rest in between, Share your affections, Voice your feelings, Leave your mark."
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alexandra rosa
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Mais de 1000 assinaturas!

Mensagem por alexandra rosa »

Ao fim de uma semana online a petição lançada pela ABIC já ultrapassou as 1000 assinaturas!

Alexandra

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Mensagem por Aragao »

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Petição com 2000 assinaturas

Mensagem por alexandra rosa »

A petição pelo emprego científico ultrapassou as 2000 assinaturas!

Alexandra
Alexandra Rosa
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